O aquecimento global e o respetivo impacto nos níveis de produtividade em diversos setores da atividade económica, como a agricultura ou a indústria, poderá levar à perda de 80 milhões de empregos até 2030, de acordo com um novo relatório das Nações Unidas
Num relatório divulgado esta segunda-feira, a Organização Internacional do Trabalho (OIT, agência da ONU especializada em questões relacionadas com o trabalho) antevê que nessa data, ou seja, daqui a 11 anos, 2,2 por cento do total de horas de trabalho no mundo inteiro possam ser dadas como perdidas por causa das altas temperaturas sentidas e ao consequente aumento do “stress térmico”.
O impacto do “stress térmico” será maior no Sudeste Asiático e na África Ocidental, onde cerca de cinco por cento das horas de trabalho poderão ser encaradas então como pouco produtivas, acrescentou o mesmo relatório intitulado “Trabalhar num planeta mais quente: o impacto do stress térmico na produtividade do trabalho e do trabalho decente”.
Em termos totais, e à escala mundial, as perdas económicas poderão chegar até aos 2,4 biliões de dólares (2,1 biliões de euros). «É aproximadamente o equivalente à economia do Reino Unido», afirmou Catherine Saget, coautora do relatório, em declarações à imprensa e citada pelas agências internacionais.
Segundo explicou a OIT, o «stress térmico» ocorre quando são registados níveis altos de calor aos quais os corpos das pessoas não conseguem tolerar sem sofrer qualquer tipo de dano fisiológico. Por exemplo, precisou a agência da ONU, quando ocorrem temperaturas superiores aos 35 graus Celsius com uma forte humidade.
«O impacto do “stress térmico” na produtividade do trabalho é uma consequência grave das alterações climáticas», afirmou Catherine Saget. «Podemos esperar que as desigualdades aumentem entre os países de alto rendimento e os países de baixo rendimento, que as condições laborais se deteriorem para os mais vulneráveis, bem como aumentem os deslocamentos de populações», advertiu a especialista.
Os setores de atividade mais expostos a este fenómeno são a agricultura, que emprega 940 milhões de pessoas no mundo inteiro e deve representar 60 por cento das horas de trabalho perdidas até 2030, e a construção civil, com uma perda de produtividade na ordem dos 19 por cento.
Apesar das regiões do Sudeste Asiático e da África Ocidental serem previsivelmente as mais afetadas com vagas de calor, Nicolas Maitre, economista da OIT, realçou que a Europa também não será poupada.
«Devemos esperar mais e mais períodos como aquele que ocorreu recentemente, cada vez mais frequentes e cada vez mais intensos», declarou Nicolas Maitre. Na última semana, uma vaga de calor afetou vários países europeus, como Espanha, França, Itália ou Alemanha, com o registo de temperaturas recorde superiores a 45 graus Celsius, como ocorreu no território francês, e de cerca de uma dezena de mortos.
De forma a prevenir os riscos do “stress térmico”, a OIT encoraja «a criação de infraestruturas adequadas e melhores sistemas de alerta precoce durante os episódios de calor muito intenso».
Os apelos para reforçar a ação climática a nível mundial são constantes, nomeadamente ao nível das Nações Unidas, a fim de alcançar o objetivo do Acordo de Paris, nomeadamente os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Fonte: Visão