Fonte: tsf.pt
2020 é um ano quase para esquecer para os produtores da cereja do Fundão. O novo coronavírus obrigou à adoção de um conjunto de medidas de segurança para produtores e consumidores e houve quebras de produção superiores a 50%.
A cereja, a imagem de marca do Fundão, é vital para este município da Cova da Beira. Só este fruto vale 20 milhões de euros por ano à economia local.
Dos pomares do Fundão saem anualmente, em média, 7 mil toneladas de cerejas. Este ano, nem metade da colheita vai ser feita devido ao mau tempo que assolou a zona da serra da Gardunha, entre finais de fevereiro e abril. A Cova da Beira registou fortes chuvadas, neve e geada, condições meteorológicas adversas para a produção deste fruto de época.
“Está a ser um ano dramático. Temos uma produção com um decréscimo superior a 50%”, salienta à TSF o produtor Luís Filipe, que estima ter um prejuízo superior a 50 mil euros.
Segundo este fruticultor, este ano “há poucas cerejas nesta fase inicial” da campanha. Por norma, a apanha estende-se até ao início de julho. “Quando chegar o 10 de junho (feriado) já não temos cerejas, não há hipóteses, não as temos nas árvores e não as vamos poder colher”, refere.
Estas perdas já levaram o presidente da Câmara do Fundão a solicitar uma “ajuda extra” ao Ministério da Agricultura, defendendo que a antecipação dos apoios comunitárias pode minorar as dificuldades de tesouraria dos fruticultores. Paulo Fernandes reclama ainda uma intervenção da tutela junto das seguradoras.
“Muitos dos produtores têm a produção segura, mas este é sempre um processo muito difícil e toda a ajuda governamental é bem-vinda para defender o elo mais fraco, que são os produtores”, sustenta o autarca.
A campanha da cereja no Fundão enfrenta este ano o problema da quebra nas colheitas, mas não só. A apanha teve também que se adaptar à pandemia de Covid-19.
Por intermédio do município, em parceria com outras entidades, foi criado um código de boas práticas para a apanha, que em 2020 está a ser feita com máscara, viseira e luvas. Há medidas de segurança nos pomares e também nos armazéns. Tudo para salvaguardar o produto, o cliente final, mas também quem anda a trabalhar.
“Fazemos como tem que ser, temos que ter [medidas] de higiene por causa do vírus. Temos que seguir as normas legais”, explica a romena Anisoara Hotin, que chegou a Portugal em 2005, e desde esse ano que apanha cerejas no Fundão.
A Luís Barata, outro trabalhador do campo, também não causa qualquer confusão usar equipamentos de proteção. “É igual, não interfere em nada [no trabalho]”, aponta, sublinhando que estas medidas de segurança são boas tanto para si, como para quem vai comprar as cerejas.
O material de proteção foi distribuídos pelas duas mil pessoas que andam pelos cerejais da Cova da Beira. A produtora Susana Salvado garante à TSF que os fruticultores, mas também os funcionários, aceitaram de bom grado as novas regras de segurança e higiene.
“Fazemos questão de seguir essas boas práticas”, realça, sem esconder que esta operação vai acarretar custos acrescidos.
“Não sei ainda ao certo qual vai ser o custo, depende da época e temos que ver como é que se vai manter o tempo”, explica.
Uma das medidas mais emblemáticas do guia de boas práticas foi o estabelecimento de uma quarentena obrigatória para os cerca de 500 trabalhadores que todos os anos se deslocam para o Fundão para participar na apanha da cereja.
“Um dos artigos principais do código de boas práticas é que esses trabalhadores teriam que vir mais cedo para poderem estar em quarentena, ou então do ponto de origem haver a garantia que tinha havido a quarentena”, explica Paulo Fernandes, presidente da Câmara do Fundão.
De acordo com o autarca, esta medida “era essencial para demonstrar a todos os outros trabalhadores que estavam reunidas as condições para que nos pomares pudesse haver uma campanha de certa forma normal”.
Para ajudar os produtores e para garantir segurança ao cliente final, no Fundão está também a ser finalizado um novo canal de vendas que vai permitir a entrega das cerejas porta a porta.
“Vamos ter, a partir do dia 18 de maio, um modelo em que as pessoas podem fazer a sua encomenda e nós vamos construir todo um processo para as cerejas chegarem de forma segura a casa das pessoas. Para além dos parceiros comerciais e grandes superfícies e pequenos mercados, também vamos reforçar as cadeias curtas para fazer chegar este fruto excecional [aos lares dos portugueses]”, conclui.