Chuvadas de dezembro são uma ajuda mas não resolvem a seca no país

Confagri 26 Dez 2019

A região a sul do Tejo até poderá sair da situação de seca, mas o mesmo não acontecerá ao Baixo Alentejo e ao Algarve, que até ao início do mês se apresentavam em seca severa e extrema. As depressões Elsa e Fabien não trouxeram tanta água como era precisa, mas ajudaram.

Engane-se quem pensou que as cargas de água que caíram com as depressões Elsa e Fabien vieram resolver os problemas da seca em Portugal. Ajudaram, mas são insuficientes. Na passada quinta-feira parecia que tinha chegado o dilúvio, com a estação da Guarda a registar a queda de chuva mais elevada do país – 139,5 mm quando em Lisboa esse valor se ficou nos 32 mm, uma diferença abismal… e na capital já choveu tanto!

Em novembro, quase 70% do país estava em situação de seca. O problema era mais grave na zona sul, com o Baixo Alentejo e o Algarve (sobretudo no Sotavento que está em seca extrema) no top das regiões que apresentam mais falta de água. O problema poderá melhorar com as chuvadas deste dezembro, mas a seca vai manter-se nestas zonas mais críticas.

Só os relatórios com os acumulados mensais (quinzenais, em casos excecionais) permitem avaliar a seca meteorológica – refere o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. As previsões do IPMA sobre a seca avançadas no início deste mês até dão conta de uma “diminuição significativa da sua intensidade no Baixo Alentejo e Algarve” e o seu fim em grande parte da região a sul do Tejo. Quer isto dizer que se mantém nas zonas em que agora a seca é classificada de severa ou de extrema. Certo é que mesmo que seja alterada para moderada ou fraca, ainda assim a seca meteorológica continua.

Essa alteração poderá ocorrer porque os valores da precipitação em dezembro deverão, no acumulado, ser superiores ao normal – os valores superiores ocorrem em 20% dos anos, diz o IPMA.

De resto, a chuva que já caiu este mês até ao dia 22 de dezembro permitem identificar um valor médio da quantidade de precipitação de, 186,3mm, o que corresponde a 129,4% do valor normal (período de referência 1970-2010, 144mm).

Mas especialistas ouvidos pelo DN – que não quiseram alongar-se nas explicações por não conhecerem os valores e por argumentarem que os relatórios mensais é que permitem uma avaliação efetiva – referem que a queda de água no Algarve e no Alentejo foram baixas para as necessidades. Além de que muita da água que caiu terá sido absorvida pelos lençóis freáticos ou caído nas albufeiras do sul que estavam muito abaixo das suas capacidades normais.

No Algarve os níveis de precipitação registados na quinta-feira, o dia mais grave da depressão Elsa, foram mais elevados na estação da Praia da Rocha, em Portimão – 47,6 mm. Em comparação, Vila Real de Santo António e Castro Marim, que estão em seca extrema, só registaram, respetivamente, 23,9 mm e 22,22. Menos de metade.

A água que caiu, por exemplo nas barragens algarvias de Odeleite e Odelouca, segundo o presidente da AMAL, Comunidade Intermunicipal dos Municípios do Algarve, foi insuficiente.

António Pina, que também é presidente da Câmara Municipal de Olhão, deixa bem claro que a chuva que caiu com as depressões Elsa e Fabien não pode deixar as pessoas com a ideia de que a grave situação de seca na região foi ultrapassada. A título de exemplo refere que na barragem de Odeleite o nível das águas aumentaram um hectómetro cúbico (hm3) e na de Odelouca 5 hm3. “Esta água que caiu não nos tirou da seca extrema. Precisava de chover quatro ou cinco vezes mais”, diz António Pina.

Por isso, entende que é preciso começar a desenvolver medidas de curto prazo para mitigar as consequências das alterações climáticas na região. Foi isso mesmo que disse na reunião que decorreu, na sede da AMAL, com todos os representantes das autarquias algarvias, o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente e o responsável pelas Águas do Algarve na passada sexta-feira.

Nesse sentido, vai ser constituído um grupo de trabalho que reúna todas as autarquias algarvias, e os principais consumidores de água da região de forma a serem estudadas medidas – os agricultores (que consomem 60%), os municípios (cerca de 32%) e o golfe (6%).

Além desta reflexão que pretendem fazer em conjunto, os municípios do Algarve foram informados num encontro realizado no final de novembro, que o governo também constituirá um grupo de trabalho com vista à definição de medidas e procura de soluções. Nessa reunião, participaram os ministros do Ambiente e da Agricultura e a secretária de Estado do Turismo.

Nova barragem ou central de dessalinização, precisam-se

O vice-presidente da APA, Pimenta Machado, presente no encontro de sexta-feira, deu conta da capacidade atual das barragens da região, revelando que a zona do Sotavento é a que traz mais preocupações e que, “se não chover, teremos, com toda a certeza, um problema de falta de água no próximo ano”.

E disse que é fundamental continuar e reforçar as medidas de contingência já identificadas, como sejam a sensibilização da população para esta problemática, a reutilização das águas residuais e as restrições no licenciamento de novas captações de água subterrânea, medidas que, segundo o mesmo, já estão em vigor.

A mudança de hábitos de consumo é uma tónica nos discursos políticos que pedem alterações tão simples como fechar a torneira quando se lava os dentes, colocar uma garrafa de litro e meio no autoclismo para diminuir a descarga ou reduzir o gasto de água no banho.

Em cima da mesa esteve também a necessidade de construir uma nova barragem, ou alargar as já existentes, bem como a criação de uma central de dessalinização da água do mar.

Medidas, aliás, defendidas no Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve. António Pina preconiza que o próximo quadro Comunitário de Apoio contemple uma linha especial para as regiões em seca severa ou extrema do Algarve e do Baixo Alentejo. “É preciso investir numa maior eficiência e diversificar as fontes de água potável. Tem de se ter em conta as várias hipóteses e avaliar o custo benefício.”

Um problema que é do país e não só do Algarve

Sobre a construção de uma estação de dessalinização, o presidente da AMAL defende que é necessário que o país tenha este know-how e que se faça esta aprendizagem. À semelhança do que já acontece em Espanha, nomeadamente em zonas turísticas como as Baleares e as Canárias, ou em Israel, que está na vanguarda desta técnica.

“Temos de começar de alguma maneira. O passado já ninguém altera, só se altera o futuro.”

António Pina deixa um alerta ao governo: “Tem de se perceber que isto não é um problema do Algarve, é um problema do país. Se uma parte do corpo não tem água, é uma parte morta, não tem economia, e o Algarve é importante na produção de riqueza nacional.”

“Sem água, não há turismo”, sublinha o presidente da AMAL.

Tejo: Barragem de Alcântara só ficou com metade da capacidade

O Tejo é sempre um problema: pela subida dos caudais ou pela seca. Na sexta-feira a probabilidade de cheias na bacia do rio levou as autoridades a acionarem um Plano Especial de Emergência para as Cheias na Bacia do Tejo, com o nível amarelo. O Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém temia a subida dos caudais “especialmente nos provenientes de Espanha e rio Ocresa” devido aos elevados níveis de precipitação. Mas nesta segunda-feira o plano foi desativado.

O que se passou é que Portugal recebeu caudais significativos vindos de Espanha nas barragens de Alcântara e de Cedillo, na fronteira. Paulo Constantino, da Pro Tejo, explica que Alcântara, sendo a maior barragem do rio, só estava a 40% da sua capacidade e terá ficado a pouco mais de metade – ou seja, tinha 1300 hm3 de água e com a chuva trazida pelas depressões Elsa e Fabien entre o final de quarta-feira e sábado e está agora com 1800 hm3.

“Só se houver mais situações de grandes chuvas a montante de Alcântara é que poderá haver risco, de resto não haverá grande risco para o rio Tejo”, diz Paulo Constantino. Até porque os espanhóis também aproveitam o inverno para armazenar água. O que interessa também a Portugal para garantir resposta ao longo da época seca.

No final de setembro, por exemplo, havia notícias que davam conta da diminuição do caudal do Tejo, com a água a descer mais de 12 metros.

Este movimento pelo Tejo reclama, aliás, um aumento dos caudais na revisão da Convenção de Albufeira, face à existência de disponibilidades hídricas em Espanha. Sendo que o caudal mínimo anual da bacia do Tejo está definida em 2700 hm3, quando o escoamento médio anual de Espanha para Portugal, no período de 2010 a 2018, foi 3178 hm3 em excesso para além do caudal anual mínimo de 2700 hm3 previsto na Convenção de Albufeira no período de 2010 a 2018, evidenciando disponibilidades superiores às protocoladas em 1998.

Assim, o Pro Tejo defende que seria considerado “um bom acordo” o aumento do caudal mínimo anual para 4050 hm3 e também que essa distribuição se faça na sua totalidade (100%) pelos trimestres, semanas e dias, num caudal ecológico contínuo e regular medido em m3/s; Isto é, que a distribuição seja feita ao longo do ano e não com diferenças, consoante seja verão ou inverno.

 

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