“Cooperativismo Agrícola: Uma Visão Ibérica”
3 de maio, Ovibeja
Não nos cansamos de repetir: Que bem te ficam os 40, Ovibeja!
De dia 30 de abril a 5 de maio o maior certame agrícola do Alentejo juntou milhares de miúdos e graúdos, dentro dos quais famílias, agricultores, técnicos, dirigentes e personalidades importantes do panorama nacional agrícola e governativo.
A CONFAGRI para além de marcar presença com um stand institucional e em várias iniciativas, teve a grande honra de poder reunir cerca de uma centena de pessoas para o Colóquio “Cooperativismo Agrícola: Uma Visão Ibérica”.
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Marcada para as 10h00 do dia 3 de maio, esta ação demonstrou que mais do que entender como podemos crescer a nível nacional, ibérico, europeu e global, é importante lembrarmo-nos da verdadeira essência do cooperativismo, unindo esforços, criando pontes e procurando novas soluções.
Enquanto Confederação mais representativa das Cooperativas Agrícolas de Portugal, não podíamos ter ficado mais satisfeitos de ver a forma como o público assistente quis demonstrar o seu parecer e questionar o painel sobre as mais variadas questões.
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Ora, comecemos então por apresentar este magnífico painel da Mesa Redonda que tantas águas agitou:
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– Do quadro nacional, contámos com Arlindo Cunha (Ex-Ministro da Agricultura) enquanto moderador e Idalino Leão (Presidente da CONFAGRI) e Fernando do Rosário (Presidente da Cooperativa de Beja e Brinches) como oradores;
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– Da realidade espanhola, juntaram-se à Mesa Redonda, Ramón Armengol (Ex-Presidente da COGECA) e Emílio de Léon (Diretor de Produção Animal da COVAP).
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Após uma fantástica apresentação de Graça Mariano sobre o projeto Movimento Ambiente e Produção Animal que visa sublinhar a importância da comunicação do sector agrícola, e da apresentação, por parte de António Aires, da Cooperativa Farrusca dedicada à proteção, criação e comercialização da Raça Garvonesa, o Ex-Ministro da Agricultura abriu o debate partindo do ponto em que para pensar global, Portugal deve agir, primeiro, no local.
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Idalino Leão, por sua vez, não pode deixar de concordar e lamentou que Portugal não tenha, ainda, conseguido reconhecer o imprescindível papel que as cooperativas desempenham ao nível social e económico de muitos territórios. Mais lamentável se torna este facto se olharmos para o nosso país vizinho que assumiu as cooperativas agrícolas como estratégicas para a economia e para a forma como o Estado Português nem sequer se tem dado ao trabalho de garantir os recursos mínimos aos territórios que decidiu abandonar e que subsistem apenas graças às organizações de produtores.
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No seguimento deste raciocínio, foi interessante ouvir Ramón Armengol que fez questão de alertar a plateia para o imenso poder e influência que a União Europeia tem nas matérias agrícolas e silvícolas.
Falando de agendas políticas e de uma guerra acesa entre os sectores agroalimentares e os ambientais e energéticos, o Ex-Presidente da COGECA não pôde deixar mais claro que existe muito pouco interesse político dos grandes partidos em representar o nosso sector.
Mais que isto, o orador apelou a que não se contasse tanto com o poder político, mas sim connosco próprios enquanto agentes do agroalimentar. Sugeriu, portanto, que seja dada mais importância à educação dos nossos jovens, e incutido o espírito cooperativo aos atuais modelos de negócio por eles sonhados. Afinal de contas, juntos chegamos sempre mais longe.
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De acordo está o Presidente da Cooperativa de Beja e Brinches, ainda que a sua mensagem se estenda para além dos jovens. Sendo Portugal um país pequeno há que entender que existem muitas vantagens em optar pela associação com as cooperativas, apesar dos ouvidos incrédulos que tendem a teimar que não é bem assim.
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Para Fernando do Rosário, o modelo cooperativo não poderá falhar enquanto os verdadeiros donos das mesmas forem os próprios associados. A seu ver, estas estruturas querem, mais que tudo, o verdadeiro benefício dos produtores, trabalhando para providenciar análise, investigação e adaptação aos problemas de produção sempre com vista a garantir a longevidade, rentabilidade e competitividade da mesma.
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Já o Diretor de Produção Animal da Cooperativa Ganadera del Valle de los Pedroches (COVAP), Emílio de Léon quis acrescentar um ponto ao parecer de Fernando do Rosário.
A seu ver, para crescer e garantir que os atuais e possíveis futuros associados se queiram juntar às cooperativas é necessário ter uma visão 360º de toda a cadeia de valor, começando no agricultor, passando à imagem do produto, à confiança do consumidor e à sustentabilidade da produção. Por isso, é preciso testar e inovar constantemente o modelo cooperativo que impera na organização, garantindo que todos os eixos estão a ser cumpridos da melhor forma.
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O segundo momento do nosso debate prende-se, exatamente, pelo cooperativismo agrícola na sua forma mais pura.
No âmbito nacional, entendendo que existem uma quantidade diversa de perspetivas e modelos cooperativos com as quais podemos aprender para fazer crescer Portugal, o Presidente da CONFAGRI, apoiado por Fernando do Rosário, sublinhou não só a importância de desburocratizar o processo legislativo de criação das Organizações de Produtores, bem como a urgência de estender a todos os agentes do sector a visão cooperativa para que esta seja entendida como o modelo de negócio a seguir sempre, e não apenas quando é necessário dar escoamento à produção.
Ou seja, existe um código cooperativo entre a organização e os associados, e os produtores não devem apenas olhar para as Cooperativas quando existe uma necessidade de vender os seus produtos. Na realidade, devem olhar para elas como uma entidade onde se devem fidelizar de forma a garantir que existe sempre quem defenda os verdadeiros interesses dos produtores, seja no momento de distribuição, seja no momento de produção: só assim se pode garantir um nível de competitividade superior e mais abrangente em termos de produtos agroalimentares e alcance dos mesmos.
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Do outro lado da fronteira, o problema não é tanto reeducar o produtor cooperativo, mas sim, o consumidor. Recentemente inaugurada, em Espanha, a marca “Produto Cooperativo”, Emílio de Léon e Ramón Armengol garantem que não tem sido uma tarefa fácil chegar ao sucesso que seria expectável.
Para os espanhóis, tem sido difícil convencer as próprias cooperativas a aderirem ao programa, uma vez que sentem existir um estigma dos consumidores em relação aos produtos cooperativos, sobretudo nos setores olivícola e vínico.
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Voltamos, por isso, à raiz do problema inaugurado no princípio deste colóquio: importa comunicar e educar não só o produtor sobre os benefícios de pertencer a uma cooperativa agrícola, mas também o consumidor sobre a extrema qualidade dos produtos cooperativos, da forma como reduzem a pegada ambiental, garantem a manutenção de territórios, das gerações e, acima de tudo, das tradições e identidade nacional.
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É, pois, necessário continuar a apostar em iniciativas como esta que permitam entender como quem está de fora da nossa realidade, não deixa de sentir os mesmos problemas, nem tão pouco de procurar soluções inovadoras para conseguir chegar a cada vez mais agricultores, para que possamos todos crescer em escala, número e benefícios para os nossos associados.
Muito agradecemos à ACOS – Associação de Agricultores do Sul e à Ovibeja pelo convite e oportunidade de marcar presença neste grande evento, onde esperamos ter contribuído com uma visão distinta e enriquecedora!
A todos os participantes agradecemos a vivacidade com que partilharam, questionaram e participaram neste Colóquio: com o contributo de todos, pensamos mais além.
Aos oradores, escusado será dizer que não poderíamos ter escolhido um melhor painel: muito obrigado por, connosco, terem feito acontecer!