Inovação e Tendências de Consumo no Setor Agroalimentar
22 de março de 2024
O Setor Agroalimentar está vivo e cheio de força: eis a principal premissa que marcou o Seminário Inovação e Tendências de Consumo no Setor Agroalimentar, promovido pela CONFAGRI, que decorreu no dia 22 de março, na 56ª AGRO, em Braga.
Reunindo mais de uma centena de pessoas, esta iniciativa não podia ter sido mais oportuna, dadas as circunstâncias mais ou menos infelizes que o setor tem vindo a assistir: sejam elas advindas das políticas públicas, da desinformação sobre o mundo agrícola ou, ainda, da desvalorização do mesmo.
Para a CONFAGRI, não há dúvidas que o setor agroalimentar é insubstituível e, não é preciso reinventar a roda para o tornar um verdadeiro desígnio nacional. É apenas necessário unir forças com os nossos agricultores e com o melhor conhecimento científico disponível para o tornar ainda mais moderno, dinâmico, forte e preparado para o futuro.
Contudo, como apontou Nuno Serra, Secretário-Geral da CONFAGRI, há que pôr os pontos nos i’s e abrir os olhos para a questão que se coloca diante de todos os que pensam, vivem e trabalham o mundo rural: as tendências alimentares começam na ciência, nos consumidores, ou nas políticas públicas? Consumimos o que queremos ou o que nos deixam consumir?
Querendo ser pioneira na inovação e dispensar agendas políticas que podem ser tanto entraves como propulsoras à modernização, neste Seminário propusémo-nos, mais que tudo, a ouvir e entender o ponto de vista de técnicos, professores, nutricionistas e investigadores sobre o futuro do setor agroalimentar.
A primeira conclusão a que foi possível chegar não é novidade: vivemos num mundo cada vez mais (des)informado, onde o consumidor tende a ser mais exigente com a sua alimentação, desejando produtos supostamente mais saudáveis, menos processados e com selos de produção que lhes garantem todas as necessidades que procuram. Um exemplo claro disto é, como apontou o Professor António Fontainhas Fernandes, a exponencial procura de produtos de origem vegetal a que temos assistido nos últimos anos, bem como a fuga radical às gorduras saturadas e aos açúcares.
Também nesta matéria foi importante o contributo de Deolinda Silva e Teresa Carvalho da PortugalFoods, cuja apresentação se pautou pela demarcação de importantes tendências que têm vindo a emergir.
Não obstante os seus valiosos insights e linhas orientadoras para a indústria agroalimentar no que diz respeito ao lançamento de novos produtos, eis que se torna imperativo voltar a questionar o modelo das tendências: devemos apostar nas preferências do consumidor ou apostar na sua educação?
E já que o marketing e a publicidade acabam por desempenhar papéis preponderantes no acompanhamento e criação de tendências porque não continuar a sublinhar, como já há muito tempo sugere Idalino Leão, Presidente da CONFAGRI, a urgência da promoção de circuitos de produção curtos e consumo de produtos que compõe a dieta mediterrânica?
Não podemos, no entanto, inocentemente achar que é apenas da observação das tendências globais que se chega a um quadro completo do consumo e dos consumidores portugueses e graças ao contributo da Professora Cecília Morais foi possível concluir por que razão é tão difícil desenhá-lo: até hoje, ano de 2024, apenas foram feitos dois inquéritos de consumo alimentar, sendo que o último data dos anos de 2015-16.
E se nutricionista que se preze não esquece a roda dos alimentos, mais importante ainda se volta a afigurar a questão da dieta mediterrânica, pois essa é a única que não precisa de se reinventar na ciência para dar ao organismo humano tudo aquilo quanto necessita: está lá tudo, como bem apontou o Presidente da CONFAGRI.
Não obstante, bem sabemos que não vivemos tempos de cenários ideais: com um desperdício cada vez maior, bem como uma escassez de recursos agravante, há que procurar soluções nutricionais que vão ao encontro da sustentabilidade e dos desejos dos consumidores.
Como tal, foi interessante assistir ao contributo da Investigadora Ana Novo Barros da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro cujas últimas investigações se têm prendido com a valorização de subprodutos, fazendo-nos questionar como e de que formas podemos aproveitar os alimentos na sua totalidade?
Fazendo-se acompanhar de três alunos da Universidade já referida, estes vieram apresentar o seu inovador projeto The Wine Lees, que consiste no aproveitamento e transformação das borras do vinho em pão, bolachas e, até, muffins.
Em última análise, independentemente do ponto de vista e do caminho que queiramos seguir, parece óbvio que é necessário atingir equilíbrio, estabilidade e honestidade.
Equilíbrio que, tal como sugere Idalino Leão, ordene ao respeito pela natureza, pela sazonalidade dos produtos, pelos recursos, pela valorização do mundo e dos trabalhadores agrícolas, pela própria saúde dos consumidores e por tudo aquilo que garantidamente já conseguimos entender que está correto através da ciência.
Estabilidade sobretudo no que toca aos aspetos sociais, económicos e sustentáveis. Apostar neste setor é garantir um futuro saudável para a população portuguesa, mas também respeito, valorização e rendimentos para a população que se quer dedicar a trabalhar o campo, a natureza, a tradição e a inovação.
Honestidade, sobretudo intelectual e comercial. Para que objetivos específicos queremos aliar-nos à ciência? Para proveito meramente pessoal ou para atingir um objetivo geral que garante, acima de tudo, o respeito pela natureza e pela saúde humana? Mais ainda, aos olhos do nosso Presidente é necessário que haja honestidade em relação à comunicação dos produtos, respeitando a nomenclatura do que é e não é, não confundindo o que é organicamente rural e animal, do que é fabricado pelo homem em substituição da natureza.
Cientes de que iniciativas como esta levantam, sempre, mais perguntas que respostas, é sempre um gosto, para nós, discutir ciência e inovação. Um obrigado muito especial a todos os participantes e, sobretudo, a todos os oradores convidados e ao moderador Eng.º Domingos Godinho pela disponibilidade e grande contributo que têm dado à comunidade científica e agroalimentar.