Leguminosas-grão: Considerações gerais

Confagri 03 Jan 2019

As leguminosas-grão ou leguminosas secas são cultivadas anualmente e produzem entre um a doze grãos/sementes comestíveis (dentro de vagens) de forma, tamanho, e cor variáveis, usadas para consumo humano e animal. As leguminosas secas são um tipo de culturas produzidas unicamente para obter a semente seca, excluindo assim as colhidas verdes, que são classificados como culturas hortícolas, assim como as culturas utilizadas e para a extração de óleo.

As leguminosas são essencialmente ricas em proteína e juntamente com os cereais (ricos em hidratos de carbono) constituem uma alternativa clássica para a nossa agricultura pelo facto da complementaridade que existe entre as diferentes culturas na alimentação humana e animal e ainda na dieta alimentar ao diversificar a receita proteica tradicional, em leite, ovos, carne e peixe; devem ser ingeridas como parte integrante de uma alimentação saudável de modo a combater a obesidade, bem como prevenir e monitorizar o desenvolvimento de doenças crónicas como a diabetes, doenças cardiovasculares e cancro (o grão-de-bico e lentilhas são tipos de leguminosas secas fundamentais nas dietas grande parte da população mundial mais comuns).

A cultura de leguminosas em rotação com outras culturas é benéfica, uma vez que além de melhorar a estrutura e fertilidade do solo devido ao azoto mineral residual procedente do restolho e raízes, rompem, a continuidade de doenças e pragas existentes na monocultura dos cereais. Por outro lado, assistimos atualmente a uma revolução tecnológica na agricultura, que leva consigo uma perda de recursos irrenováveis de matérias-primas e energia. A fixação biológica do azoto atmosférico, fruto da simbiose Rhysobium-leguminosa, representa sem dúvida uma alternativa viável para reduzir os custos de produção (ao se poder prescindir da fertilização azotada) e ter um impacto positivo no ambiente.

Por outro lado, a implementação da introdução destas espécies (de alto teor de proteína) na rotação é potencialmente uma das melhores soluções para fazer face a uma deficiente nutrição proteico-calórica, particularmente nos países em desenvolvimento. De igual modo, nos países desenvolvidos a produção de proteína vegetal assume importância fundamental, já que a produção massiva de carne e leite se faz em grande parte com base em alimentos concentrados, em que a proteína vegetal é componente essencial.

Todas estas razões permitem-nos concluir a urgente necessidade de aumentar as áreas e produtividades das leguminosas produtoras de grão. Para tal é necessário fomentar não só a investigação neste campo, como também complementá-la na sua difusão aos técnicos e agricultores.

 

LENTILHA (Lens culinaris Medik.)

A lentilha cultivada deriva de uma espécie selvagem (Lens orientalis), e é originária (centro de origem e centro de evolução) da Turquia.

É uma espécie com uma elevada variabilidade genética, pouco exigente em solo e pH (5,5 – 9) e bem adaptada a diversas condições climáticas mas tradicionalmente realiza-se em sementeira outonal.

É uma planta anual com hábito de crescimento indeterminado, porte semi-ereto, de ramos curtos de tamanho variável entre 15 e 50cm, pubescente, com folhas que suportam entre 10 e 16 folíolos. Os pedúnculos florais apresentam entre 1 e 3 flores de tamanho muito pequeno de cor branco ou azul. A vagem suporta 1, 2 e muito raramente 3 sementes que variam de 3 a 9mm distinguindo em raça microsperma e macrosperma (Alonso e Cristobal, 1996).

É uma cultura pouco sensível às doenças e pragas, sendo porém, desde que as condições ambientais sejam favoráveis, ser susceptível ao ataque do fungo Ascochyta fabae f. sp. lentis e a piolhos e gorgulhos. Pode atingir rendimentos de 1500-2000kg/ha, com densidade de sementeira média de 120-150 plantas/m2 (60-80kg/ha) e espaçamento de entrelinhas semelhante aos cereais (12-15cm). O ciclo varia entre 150 a 200 dias (entre a 2ª quinzena de Novembro e finais de Maio).

Existe atualmente 1 variedade no Catálogo Nacional de Variedades (obtentor INIAV) – ‘Beleza’ com semente de calibre pequeno e tegumento alaranjado.

 

GRÃO-DE-BICO (Cicer arietinum L.)

É uma espécie muito bem adaptada às alterações ambientais, próprias dos clima mediterrânico, e em sementeiras de Outono/Inverno podem alcançar produções muitos superiores uma vez que as plantas crescem e desenvolvem-se durante o Inverno, com maior humidade do solo e atmosférica; o período reprodutivo diferencia-se mais cedo (inicio de março) e, a característica indeterminada, confere-lhe um crescimento, quer vegetativo, quer reprodutivo constante desde que as condições atmosféricas sejam favoráveis. Com estas condições as plantas atingem altura que permite a total mecanização da colheita. Para além das vantagens mencionadas, a sementeira de Outono/Inverno proporciona um aumento da fixação simbiótica do azoto atmosférico, o aumento do rendimento em proteína, a maior taxa de germinação das sementes e a menor incidência de Fusarium spp.

A vantagem da sementeira de Outono/Inverno pode não se verificar se existirem condições de humidade desfavoráveis, por exemplo o excesso de humidade, associada à elevação da temperatura, durante os períodos vegetativo e reprodutivo, que conduz à ativação do fungo Ascochyta rabiei (fator biótico que condiciona severamente o rendimento se o germoplasma não for tolerante). Por outro lado, a secura durante as primeiras fases do crescimento, conduz ao mau estabelecimento do coberto vegetal e ao desenvolvimento de infestantes que poderão ser nefastas se não forem controladas.

Para garantir elevados rendimentos é fundamental efetuar uma boa preparação do solo, usar doses recomendadas de semente de boa qualidade (certificada) e tratada com fungicida; estudos realizados no INIAV confirmam que densidades de 35-40 sementes por m2 são as que garantem rendimentos mais elevados à colheita.

O melhoramento de grão-de-bico tem por base os métodos de seleção clássicos e visa a obtenção de novas variedades com características superiores de adaptabilidade às condições específicas dos ambientes mediterrânicos e a obtenção de um pacote de informação agronómica que permita o enquadramento nos sucessivos sistemas de agricultura.

As etapas fundamentais do programa de melhoramento incluem:

  1. a) Organização de coleções, tendo em vista reunir a máxima variabilidade genética.
  2. b) Estabelecimento de objetivos e seleção de genótipos que se dirigem sempre no sentido de obter uma elevada produtividade, boa plasticidade ecológica de adaptação, melhoria da qualidade, resistência a doenças ou outros caracteres de valor económico.
  3. c) Avaliação das linhas selecionadas para eleição de novas variedades, na forma de ensaios de adaptação durante 2 anos, com a preocupação de selecionar agronomicamente os genótipos mais estáveis e que apresentem melhor adaptação aos fatores bióticos e abióticos. Os genótipos selecionados, após análise do índice ambiental, serão candidatos ao Catálogo Nacional de Variedades e posteriormente disponibilizados para os agricultores.

Existem atualmente 6 variedades no Catálogo Nacional de Variedades (obtentor INIAV) das quais 2 são do tipo Desi (semente colorida) e 4 do tipo Kabuli (semente beije).

É atualmente em Portugal a cultura mais cultivada com expressão de mercado e um caso de sucesso do programa de melhoramento do grão-de-bico, o interesse demonstrado pela variedade ‘Elvar’ que atualmente ocupa 95% da área de produção no sul de França e 100% da área em Portugal que corresponde a 1200ha.

 

Lupinus sp.

TREMOÇO, TREMOCILHA e TREMOÇO AZUL

Os Lupinus sp. podem ser consideradas culturas “novas” e “antigas”:

Novas, pelo seu interesse recente na introdução de variedades melhoradas na agricultura;

Antigas porque existem registos desde há 2.000 anos a.C.

Este género compreende centenas de espécies, das quais, apenas uma dezena é originária da Europa e África. As mais vulgares em Portugal são o Lupinus albus (tremoço), Lupinus luteus (tremocilha) e Lupinus angustifolius (tremoço azul). Desde a antiguidade que são usadas como culturas melhoradoras de solos e como adubo verde, além de servir de base da alimentação proteica dos povos indígenas; as sementes eram fervidas e colocadas de molho nas águas correntes dos rios para extrair o amargo que provém dos diferentes alcaloides tóxicos.

Desde há umas décadas que se está a verificar o aumento da procura de grãos e farinhas com elevado teor proteico para alimentação animal, considerando-se a produção de leguminosas para grão é uma prioridade importante para a agricultura europeia, graças à sua capacidade (como leguminosas) para a fixação biológica do azoto, poderão contribuir para redução do uso de energia fóssil e das emissões de gases de efeito estufa, especialmente através da redução do uso de fertilizantes assim como para a diversificação e sustentabilidade dos sistemas de cultivo.

A par das razões ambientais, imperam razões económicas e de dependência externa, dado que há uma grande escassez global de fontes proteicas, sendo inferior a 35%, concretamente para os alimentos compostos para animais, em que a Europa está muito dependente de matérias-primas oriundas de países terceiros como é o caso típico da soja. O panorama em Portugal é ainda mais preocupante, havendo necessidade de importar cerca de 66 000 ton/ano (FAO, 2016).

Os Lupinus sp. são culturas que vão ao encontro dos novos objetivos e prioridades da PAC, tendo em conta que são espécies ricas em proteína e que a sua introdução nos sistemas de agricultura nacional aporta diversos benefícios:

  • Gestão ambiental dos recursos naturais (quebra de doenças e do ciclo de infestantes; melhoria na estrutura, fauna e fertilidade do solo);
  • Juntamente com outras leguminosas para grão contribuem para a introdução de proteína vegetal nos alimentos compostos para animais e, para o aumento de “stocks” nacionais para contribuir para a redução da importação de soja.

 

Como distinguir no campo:

Os Lupinus sp. à semelhança das restantes leguminosas para grão são plantas herbáceas, anuais de porte ereto, autogâmicas com flores papilionáceas e o fruto é uma vagem que pode conter entre duas e nove sementes (Jambrina, 1996). Tem uma raiz principal aprumada, robusta, longa e rica em amido. As raízes mais profundas conferem a estas espécies a adaptação a uma vasta gama de solos desde arenosos a franco-arenosos, a solos argilosos profundos e podem desempenhar um papel importante contra a erosão e aumento da fertilidade do solo (utilizam o azoto atmosférico fixado pelo Rhizobium específico para cada espécie, presente nos nódulos radiculares).

Exigências da cultura:

Clima – com exceção do L. albus, estas culturas não são muito resistentes ao frio, ainda que prefiram climas frescos. Desenvolvem-se bem com temperaturas compreendidas entre 10 e 14ºC, tendo um ótimo entre 20 e 25ºC. Temperatura superior a 28ºC conduz à paragem do ciclo.

Solo – o bom desenvolvimento destas espécies depende mais do pH do que da textura. O tremoço branco prefere solos com pH de 6 e teores médios de argila. O tremoceiro bravo tolera ph mais ácido e solos mais francos. A tremocilha prefere solos mais arenosos e pH de 4,5. Solos com teores elevados de calcário são prejudiciais. Devido ao seu sistema radicular profundo preferem (independentemente da espécie) solos profundos e bem drenados. De todos o tremoço azul é o que presenta uma adaptação mais plástica aparecendo de forma espontânea na natureza.

Técnicas culturais:

Preparação do solo – o ideal será realizar uma mobilização preparatória, logo após a colheita da cultura anterior, a fim de incorporar o restolho existente. A mobilização deve ser a suficiente para deixar o solo bem arejado para facilitar o desenvolvimento radicular e a formação de nódulos.

Fertilização – as necessidades dos Lupinus sp. são particularmente importantes em potássio (100-120 unidades) e fósforo (40-60 unidades de ácido fosfórico). Uma adubação de fundo com 20-30 unidades de azoto é favorável ao arranque e estabelecimento da cultura.

Controlo de infestantes – a preparação do solo antes da sementeira é fundamental para manter o solo limpo de infestantes por um período mais longo; não existem herbicidas homologados, em Portugal, para estas espécies.

Sementeira – a sementeira deverá ser realizada cedo (meados de outubro) para qualquer espécie, com semeador pneumático, linhas distanciadas de 40-50 cm e à profundidade de 2 a 4cm.

As doses recomendadas para obter uma densidade de 25-40 plantas/m2 são:

  1. albus: 100-110kg/ha
  2. angustifolius: 60-70kg/ha
  3. luteus: 35-45kg/ha

A rolagem após sementeira facilita a colheita de qualquer das espécies

Utilização:

São culturas utilizadas essencialmente em compostos para alimentação animal. Em algumas regiões também podem ser utilizadas como forragem e adubo verde (sobretudo a tremocilha). Esta, como é mais deiscente que as outras espécies, tem outro tipo de aproveitamento em pós colheita – pastoreio direto dos grãos deiscentes, durante o período estival.

O tremoço branco pode ser também usado na alimentação humana para enriquecer (adicionar valor nutritivo) determinados alimentos.

Variedades comerciais:

Atualmente encontram-se inscritas no Catálogo Nacional de Variedades (CNV) 4 variedades de Lupinus sp.:

Lupinus albus L. – Estoril (1990)

Lupinus angustifolius L. – Giribita (2010)

Lupinus luteus L.: Acos (1996) e Cardiga (1990)

 

Fonte: Voz do Campo

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