São 13 km de extensão: um dos maiores vales glaciares está a arder desde sábado. Quem vive nas aldeias sabe o que está em causa. Na tarde desta terça feira mais árvores foram consumidas faias, zimbros, castanheiros e carvalhos – árvores centenárias que desapareceram em poucos minutos. A dimensão dos prejuízos só vai ser conhecida quando o fogo estiver extinto.

O incêndio pode levar à extinção de uma espécie de árvore que não se encontra em nenhum outro lugar no país, a não ser na povoação de Teixoso, no vale glaciar de Manteigas. A revelação foi feita à Renascença pelo investigador do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, Jorge Capelo.

Chama-se teixo e, no passado, serviu para fazer lápis e pegas de ferramentas. Atualmente, já tem pouca utilização, mas tal não justifica a sua extinção, diz o botânico que trabalha em habitats naturais e ecologia da conservação.

Segundo o investigador, “são já poucos os indivíduos desta espécie”, e “apesar de as árvores terem alguma capacidade de regeneração, elas são muito poucas e, se a sua capacidade de voltarem a rebentar e produzir sementes for afetada, elas desaparecem mesmo”.

Apesar de não haver outras espécies vegetais ou até animais que dependam do teixo, o seu desaparecimento é uma perda para a biodiversidade, acredita o responsável do herbário do Instituto de Investigação Agrária e Veterinária.

Jorge Capelo revela que a Serra da Estrela alberga outras espécies “endémicas”, ou seja, que não existem em qualquer outro lugar do planeta, mas aquelas “ocorrem em ecossistemas que não são mais ameaçados pelo fogo, como zonas húmidas e rochosas”.

Mas há outras espécies de flora que sofrem com este mega-incêndio. Miguel Bugalho, investigador do Centro de Ecologia Aplicada Professor Baeta Neves, diz que “normalmente quando há estes incêndios muito intensos, a vegetação vai acabar por responder, mas nas fases iniciais em que está a desenvolver, ela está muito suscetível aos animais que possam lá acorrer”, quando regressarem às áreas queimadas.

O investigador defende a realização do fogo controlado para diminuir a carga de combustível das áreas florestais, e aumentar a diversidade da paisagem, mas considera altamente gravosos os “mega-incêndios” como os que ocorrem em Portugal.

Embora a maior parte das espécies já esteja adaptada às condições climáticas e ao fogo, os incêndios de grande intensidade provocam sempre grande mortandade na fauna local e lesam gravemente a flora portuguesa, lamentam os dois investigadores.

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