A produção de azeite pode parar e o setor colapsar devido ao excesso de bagaço de azeitona

Confagri 11 Dez 2019

Fonte: 24.sapo.pt/MadreMedia/Lusa

A apanha de azeitona e a produção de azeite correm o risco de parar e o setor olivícola pode colapsar no Alentejo por falta de capacidade das fábricas da região para armazenar bagaço proveniente dos lagares.

“Esta semana provavelmente, o mais tardar na semana que vem, vai haver um colapso no setor”, porque a apanha de azeitona e a produção de azeite “vão ter que parar”, já que “não há espaço para colocar o bagaço de azeitona produzido pelos lagares” do Alentejo, disse hoje à agência Lusa Aníbal Martins, vogal do conselho de administração da CONFAGRI – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal.

Segundo o responsável, as três unidades do Alentejo que transformam bagaço de azeitona proveniente dos lagares da região “têm praticamente esgotada a sua capacidade estática de armazenamento” daquele subproduto resultante da produção de azeite.

Devido ao aumento da produção de azeitona e às condições climatéricas (falta de chuva) “favoráveis à apanha rápida de azeitona”, tem chegado azeitona “em maiores quantidades e mais rapidamente aos lagares” e “um volume inusitado” de bagaço de azeitona para ser transformado nas três unidades, explicou.

Apesar de trabalharem 24 horas por dia durante 11 meses, as três unidades, duas no concelho de Ferreira do Alentejo e uma no concelho de Alvito, têm os tanques de armazenagem “praticamente cheios e a atingir a rutura” e “não havendo onde por o bagaço terá forçosamente de parar a apanha de azeitona e a produção de azeite”, disse.

Aníbal Martins, que também é presidente da FENAZEITES – Federação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Olivicultores e gerente da União de Cooperativas Agrícolas do Sul (UCASUL), a dona da unidade de Alvito, alertou que a paralisação do setor, a verificar-se, “poderá provocar prejuízos incalculáveis aos agricultores e às empresas ligadas ao setor”.

Por outro lado, alertou, “poderá ocorrer um verdadeiro caos ambiental ao não haver onde colocar” a produção de bagaço de azeitona, que poderá chegará às 600 mil toneladas na atual campanha olivícola.

Segundo Aníbal Martins, a unidade da UCASUL recebe cinco mil toneladas de bagaço de azeitona, mas só tem capacidade para transformar mil toneladas por dia, ou seja, “acumula quatro toneladas a cada dia que passa” e, atualmente, não tem capacidade para armazenar mais.

Atualmente, o escoamento do bagaço de azeitona é “o problema maior” do setor olivícola, que “cresceu de forma exponencial nos últimos anos”, mas “tem havido um desequilíbrio estrutural”, porque o aumento das produções de azeitona e azeite “não tem sido acompanhado” do aumento da capacidade de armazenamento e transformação de bagaço.

O “estrangulamento” na capacidade de armazenamento e transformação de bagaço “é um problema muito complicado para o setor olivícola”, “vai ser muito maior na próximo campanha”, com o esperado aumento das produções de azeitona e azeite com a entrada em produção de novos olivais, e “levará ao colapso das atividades relacionadas”, alertou.

Aníbal Martins disse que o setor cooperativo olivícola, através da CONFAGRI, da FENAZEITES e da UCASUL, “tem vindo a sensibilizar as entidades responsáveis”, nomeadamente o Ministério a Agricultura, para “o problema e a possibilidade de ocorrer a grave situação de colapso do setor olivícola no Alentejo”.

A CONFAGRI e a FENAZEITES vão reunir “em breve” com a ministra da Agricultura para “analisar o problema e procurar uma solução”, disse, referindo que a reunião “está acordada, mas ainda não agendada”.

Aníbal Martins adiantou que é preciso uma nova unidade de transformação de bagaço ou ampliar a capacidade das três unidades existentes no Alentejo para resolver o problema.

“Há uma série de constrangimentos legais que não têm permitido que seja autorizada e surja uma nova unidade”, lamentou.

Os planos diretores municipais (PDM) só permitem a instalação deste tipo de unidades perto de aglomerados urbanos, mas aqui “o problema, que está em vias de ser resolvido, é que as unidades têm má imagem do ponto de vista ambiental, porque, apesar de todas estarem a trabalhar dentro da lei, o aspeto visual é muito negativo”.

E fora de aglomerados urbanos, “é difícil arranjar um terreno” onde se possa instalar uma unidade, porque todos estão dentro de Reserva Agrícola Nacional (RAN), explicou.

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