Fonte: INE
De acordo com a primeira estimativa das Contas Económicas da Agricultura para 2022, prevê-se que o Rendimento da atividade agrícola, em termos reais, por unidade de trabalho ano, registe um decréscimo acentuado (-11,8%), situação que não ocorria desde 2011. Para esta evolução foi determinante o decréscimo do Valor Acrescentado Bruto (VAB) (-10,7%).
Note-se que, em 2022, terá persistido e mesmo agravado o diferencial positivo de crescimento entre os preços de produtos de consumo intermédio e os preços da produção. Por um lado, a atividade agrícola enfrentou dificuldades excecionais ao nível climático (o ano mais quente desde 1931), por outro, em consequência do contexto internacional da guerra na Ucrânia, assistiu-se a aumentos pronunciados dos preços (com destaque para os cereais, energia e outros produtos utilizados na atividade agrícola).
As exportações de produtos agrícolas, no período de janeiro a outubro de 2022, registaram um aumento de 30,5% face ao período homólogo, enquanto as exportações totais de bens aumentaram 25,2%. No mesmo período, as importações de produtos agrícolas aumentaram 32,2%, um acréscimo menos intenso que o das importações totais de bens, 35,7%.
Produção do ramo agrícola
O ligeiro acréscimo nominal da Produção vegetal (+0,6%) resulta do efeito conjugado de uma diminuição em volume (-8,0%) e de um aumento dos preços de base (+9,4%). Com exceção dos frutos e do vinho, a generalidade dos produtos vegetais deverá registar crescimentos em valor. A produção de Cereais deverá diminuir 12,9% em volume, destacando-se o acentuado decréscimo na cevada (-43,5%). A produção de milho apresentou uma redução de 10,7%. As estimativas apontam para uma redução da produção de arroz de cerca de 15,0%.
O baixo volume de produção cerealífera terá sido, no entanto, mais do que compensado por uma forte subida de preços (+57,4%), reflexo da conjugação de perturbações no mercado internacional de cereais, em resultado da guerra na Ucrânia, do aumento significativo dos preços implícitos do consumo intermédio e de condições climáticas severas.
As Plantas forrageiras deverão registar um decréscimo em volume (-10,5%), dada a escassez de precipitação, aliada à diminuição ou falta de adubação de cobertura (devido ao aumento extraordinário dos preços dos fertilizantes), com impacto no desenvolvimento vegetativo destas culturas.
Para os Vegetais e produtos hortícolas, prevê-se uma diminuição da produção em volume (-4,2%), refletindo um aumento das plantas e flores (+2,5%) e uma diminuição dos hortícolas frescos (-8,2%), sendo de destacar o decréscimo pronunciado no tomate para indústria (-15,0%). A área contratada entre os produtores e a indústria transformadora decresceu 4,5% face à campanha anterior e o desenvolvimento da cultura foi prejudicado pelas condições climáticas. Estima-se que o preço no produtor tenha aumentado 28,6%. No computo geral, os vegetais e produtos hortícolas apresentaram um acréscimo de preços de 14,2%.
No que respeita aos Frutos, as estimativas apontam para um decréscimo de 6,6% em volume, principalmente devido à menor produção de maçã (-20,0%), pera (-45,0%) e pêssego (-20,0%), fruto que registou uma das piores campanhas dos últimos anos. No sentido oposto, estima-se uma produção de cereja próxima da alcançada na campanha anterior, a mais produtiva dos últimos 49 anos. Contrariamente à generalidade da Produção vegetal, os preços dos Frutos deverão diminuir (-2,1%).
Em relação ao Vinho, as altas temperaturas e a falta de humidade em fases decisivas do ciclo vegetativo da vinha, prejudicaram significativamente a produção de uvas, que terá diminuído 15,0% em volume. No entanto, antevêem-se vinhos bem estruturados, equilibrados em álcool, acidez, açúcares e taninos.
As estimativas para a produção de Azeite no ano civil de 2022 (que abrange parte das campanhas 2020/2021 e 2021/2022), apontam para um decréscimo em volume (-9,1%), em consequência da diminuição da produção de azeitona da campanha em curso (2021/2022). Note-se que na campanha anterior foi atingida a produtividade mais elevada dos últimos 30 anos.
A produção animal deverá registar um ligeiro decréscimo em volume (-0,1%) e um acentuado aumento dos preços de base (+23,0%), resultando num acréscimo nominal de 22,8%, para o qual contribuem fundamentalmente os bovinos (+15,4%), os suínos (+22,4%), os ovinos e caprinos (+9,8%), as aves (+29,4%) o leite (+22,5%) e os ovos (+66,3 %).