Fonte: INE
As previsões agrícolas, em 31 de outubro, apontam para diminuições significativas na produção de maçã (-25%, face à campanha anterior) e de pera (-35%), quer devido a condicionalismos fisiológicos, quer devido a condições meteorológicas adversas. Essencialmente devido à redução da produtividade dos amendoais de sequeiro do interior Norte, também se prevê a diminuição da produção de amêndoa relativamente ao ano anterior embora deva atingir a segunda maior produção dos últimos 20 anos. No kiwi a produção deverá situar-se em redor das 32 mil toneladas, valor semelhante à campanha anterior. A castanha também manterá, previsivelmente, a produção de 2019 (9% acima da média do último quinquénio). Nos olivais a produtividade deverá decrescer 30% face a 2019, num ano de contrassafra e com problemas no vingamento dos frutos. Quanto à vinha, numa campanha com grande heterogeneidade regional, a produção deverá diminuir 5%, face à vindima anterior.
Nas culturas anuais, a produção de tomate para a indústria deverá ser próxima de 1,2 milhões de toneladas, 15% abaixo da campanha anterior. No arroz a produção também deverá diminuir 10%, essencialmente devido à diminuição da área instalada. Quanto ao milho para grão, os resultados das colheitas já realizadas apontam para a manutenção da produção (próxima das 750 mil toneladas).
Precipitação favorece renovação dos prados e pastagens
A precipitação ocorrida, aliada às temperaturas ainda relativamente amenas, favoreceram a renovação da vegetação dos prados e pastagens de sequeiro. De referir, contudo, que a biomassa disponível ainda não é suficiente para a alimentação dos efetivos em pastoreio pelo que, ao longo do mês, continuou a efetuar-se a distribuição de fenos, palhas e, pontualmente, rações industriais em quantidades semelhantes ao ano anterior e um pouco acima do normal para a época. A disponibilidade dos alimentos conservados é, em geral, superior ao normal, não se prevendo dificuldades em assegurar as necessidades nutricionais dos efetivos nos próximos períodos de maior escassez das pastagens.
Produtividade do olival decresce 30% face a 2019
Os olivais encontram-se no estado fenológico Fruto em maturação, tendo-se iniciado em outubro a colheita nas variedades mais precoces. A precipitação deste mês foi benéfica para alguns olivais, nomeadamente os de sequeiro, mas não suficiente para contrariar o efeito do conjunto de fatores negativos que afetaram o potencial produtivo desta cultura ao longo do seu ciclo. Apesar de índices de floração bastante aceitáveis para um ano de contrassafra, a precipitação e as elevadas temperaturas, por altura do vingamento, determinaram uma menor carga de frutos, diminuída posteriormente em resultado de prolongados períodos quentes e secos. Estima-se uma redução de 30%, face à campanha anterior, quer na azeitona para azeite, quer na de mesa.
De referir que, face à diminuição de produtividade, existem áreas significativas de olivais tradicionais que não serão colhidas (os custos de colheita superariam a valorização da produção), com implicações também nas unidades de transformação: os lagares mais pequenos ainda não abriram e os de maior dimensão têm linhas de laboração paradas.
Produção de arroz afetada pela diminuição da área semeada
A colheita do arroz, iniciada em setembro, ainda está a decorrer, nomeadamente no Ribatejo e Oeste, onde se prevê que se prolongue até ao início de dezembro. Estima-se uma produção próxima das 137 mil toneladas (-10%, face a 2019), numa sucessão de três campanhas com decréscimos de produção (face a 2017, a redução será superior a 40 mil toneladas, i.e., -24%). Dois fatores contribuíram decisivamente para este resultado: a diminuição da área instalada (em consequência da interrupção do fornecimento de água a cerca de 3 mil hectares de canteiros de arroz localizados na zona afetada pelas obras de reabilitação do aproveitamento hidroagrícola do Vale do Sado) e a baixa produtividade (resultado de povoamentos irregulares no Ribatejo e Oeste e no Alentejo, de problemas de alagamento dos canteiros em algumas searas na Península de Setúbal e de dificuldades crescentes no controlo de infestantes).
Produção de milho mantém-se
A colheita do milho de regadio iniciou-se na segunda quinzena de setembro, nalgumas áreas semeadas mais cedo, e ainda decorre. A precipitação deste mês interrompeu os trabalhos, quer por ter impedido o acesso das máquinas aos campos, quer por ter aumentado o teor de humidade do grão para níveis que tornariam incomportáveis os custos de secagem forçada, estando-se, em muitos casos, a aguardar que o tempo seco proporcione a pretendida secagem natural no campo. A produção total de milho para grão (regadio e sequeiro) deverá manter-se semelhante à da campanha anterior, próxima das 750 mil toneladas.
Boa campanha do tomate para a indústria
A colheita do tomate para a indústria decorreu sem constrangimentos, tendo-se concluído na primeira semana de outubro. A matéria-prima chegou às indústrias de transformação em bom estado sanitário e com qualidade em termos de cor (teores adequados de licopenos) e graus Brix. Prevê-se uma diminuição da produção de 15%, face à campanha anterior, em consequência da diminuição da área instalada, bem como da produtividade média, para valores próximos das 91 toneladas por hectare (97,5 toneladas por hectare em 2019, a campanha com maior rendimento unitário desde que existem registos sistemáticos).
Quanto ao girassol, a produção prevista deverá diminuir 20% face a 2019, em resultado duma menor área semeada.
Produção de pomóideas diminui
A colheita da maçã, que se iniciou em julho com mais de uma semana de atraso em relação ao normal, ainda decorreu ao longo de todo o mês de outubro na variedade Fuji. Confirmam-se as previsões de quebras de produção nas duas principais regiões produtoras: em Trás-os-Montes, como resultado de condições meteorológicas pouco favoráveis por altura da floração/vingamento, associadas a posteriores quedas localizadas de granizo e a situações de escaldão; no Ribatejo e Oeste, e em particular no Alto e Baixo Oeste, com as variedades mais significativas (Fuji e Grupo das Galas) a apresentarem uma forte alternância (após a campanha de 2019, com produção historicamente elevada). Desta forma, antecipa-se uma produção global de maçã de 265 mil toneladas (-25%, face à campanha anterior), com um nível de
qualidade muito heterogéneo.
Na pera, maioritariamente produzida no Oeste, a colheita decorreu entre a semana 34 (17 a 23 de agosto) e a primeira quinzena de setembro. Também para esta cultura confirma-se a previsão de diminuição de produção anteriormente avançada (-35%, face a 2019), resultado da heterogeneidade do abrolhamento e da precipitação na floração (com impacto na atividade dos insetos polinizadores, aumentando a taxa de insucesso do vingamento dos frutos). Em termos qualitativos há calibres superiores, maiores teores de açúcar e frutos com mais carepa.
Condições meteorológicas de setembro e outubro favorecem desenvolvimento do kiwi
Os pomares de kiwi estão entre a fase M – frutos em crescimento e a fase N – frutos em maturação, sendo que a colheita deverá decorrer maioritariamente a partir da segunda semana de novembro. As condições meteorológicas de setembro e outubro (aumento da humidade relativa e descida das temperaturas mínimas) foram bastante favoráveis para o desenvolvimento dos frutos, que se apresentam bem formados, uniformes e de calibre aceitável (maior no litoral Norte que no Centro). Estima-se uma produção semelhante à do ano anterior (32 mil toneladas).
Produção de amêndoa diminui, mas corresponde à segunda maior produção dos últimos 20 anos
Com a conclusão da colheita da amêndoa, tornou-se evidente o cenário divergente entre as duas principais regiões produtoras. Em Trás-os-Montes, as condições meteorológicas adversas por altura da floração/vingamento afetaram a carga de frutos. Posteriormente, e sobre a grande maioria dos pomares (explorados em regime de sequeiro), os baixos registos de precipitação e os prolongados períodos de temperaturas muito elevadas originaram situações de stress hídrico, com implicações no peso específico dos frutos e grande impacto no rendimento unitário. Já no Alentejo, com mais de 4/5 dos amendoais instalados na última década (com sistemas de rega), não se observaram os impactos negativos do tempo quente e seco. Este facto, associado à entrada em produção de cruzeiro dos pomares mais jovens, contribuiu para que a redução da produção global de amêndoa fosse de 15%, face a 2019, alcançando-se, ainda assim, a segunda maior produção das últimas duas décadas (apenas atrás da de 2019, com 34 mil toneladas).
Soutos com produção semelhante à campanha anterior
Com o início da queda dos ouriços e da apanha das castanhas, constatou-se que alguns soutos não terão a produtividade prevista, verificando-se, entre as diferentes zonas de produção, uma heterogeneidade na quantidade e qualidade do fruto obtido. Observam-se frequentemente soutos com menos castanhas por ouriço ou com fruto de menor calibre, ou com alguns problemas fitossanitários, nomeadamente ataques da vespa-das-galhas-do-castanheiro (Dryocosmus kuriphilus Yasumatsu) mas também situações de bichado. No entanto, a precipitação e a diminuição das temperaturas dos últimos dois meses acabaram por beneficiar a produção de castanha, que deverá ser próxima da registada na última campanha.
Menos produção de vinho
As vindimas concluíram-se ao longo do mês de outubro, sendo que na maioria das regiões as vinhas já estão a entrar em repouso vegetativo. Existiu uma grande heterogeneidade nas condições de desenvolvimento da cultura, quer entre regiões, quer ao longo do ciclo, com impactos divergentes em termos de produção. Nas primeiras fases de desenvolvimento vegetativo registaram-se problemas no abrolhamento no interior Centro, provocados por geadas e quedas de neve tardias. Já durante os meses de abril/maio, as condições meteorológicas foram propícias ao surgimento de fortes ataques de míldio, obrigando ao reforço dos tratamentos fitossanitários. As situações de desavinho também foram frequentes, mais no interior Norte. Registaram-se ainda prejuízos causados pela queda de granizo (interior Centro) e por escaldões (interior Norte, Ribatejo e Alentejo). Globalmente prevê-se uma diminuição de 5% na produção total de vinho, face à vindima de 2019, com boas perspetivas em termos qualitativos (vinhos equilibrados de acidez, teor alcoólico, aroma e cor) mas apreensão quanto ao escoamento do produto (função da atual situação sanitária).