Fonte: publico.pt
Presidente da República assistiu nesta quarta feita, em Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, às celebrações religiosas que assinalaram os três anos da tragédia que vitimou 66 pessoas.
Três anos depois dos incêndios que vitimaram 66 pessoas, provocaram 254 feridos e reduziram a região de Pedrógão Grande a cinzas, o Presidente da República reconheceu nesta quarta-feira que aquilo que foi feito não foi suficiente para a recuperar a região e que ainda há muito a fazer a nível da coesão social nos concelhos afectados. Lamentou ainda que o desenvolvimento económico e social não tenha sido mais célere e até “pujante”.
“Houve uma reflexão profunda, houve um debate no Parlamento, houve mudança de legislação, houve medidas tomadas, o problema é o terreno e o terreno é feito com pessoas de pele e osso, com realidades económicas e sociais, pessoas e famílias que não têm meios para poderem agir em muitos casos”, evidenciou Marcelo Rebelo de Sousa, frisando que os “condicionamentos económicos e sociais acabaram por tornar difícil a aplicação” de medidas. A isto juntou a lentidão da justiça. “A justiça tem o seu tempo e há aspectos que foram naturalmente ou têm sido levados a investigação e têm demorado tempo, muito tempo. Todos nós temos noção de que esse tempo é às vezes um tempo muito longo para a vida das pessoas e para a vida das populações”, atirou.
Em Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, onde participou nas celebrações religiosas que assinalaram os três anos da tragédia de Pedrógão Grande, o Presidente da República declarou que “todos desejaríamos” que o desenvolvimento económico e social dos territórios dizimados pelos incêndios “aparecesse mais rápido e pujante”, mas “isso nem sempre aconteceu, apesar dos esforços feitos”.
Sublinhando que “há muito fazer, aqui em particular, pela coesão territorial, que é uma aposta de futuro”, o chefe de Estado reconheceu, em declarações aos jornalistas, que a “reforma da floresta é um desafio constante” e “um processo lento”. E advertiu: “Se não houver desenvolvimento económico e social, se não houver estruturas estáveis que permitam prevenir, se não houver uma população com dinamismo e que permita a criação de estruturas, que não são só estruturas de prevenção no domínio da protecção específica, esse desafio continua presente na nossa vida (…) e não deixa de estar presente na cabeça dos responsáveis.”
E foi mais longe na explicação: “Temos a noção de que a reforma da floresta é uma questão longa por razões culturais, é uma questão longa por razões económicas, sociais e demográficas e mais difícil em áreas mais pobres e mais envelhecidas e porque exige meios para ser posta no terreno, meios esses que são exigentes e complicados.” Marcelo Rebelo de Sousa frisou que este também foi um tempo de aprendizagem. “É uma aprendizagem longa. A única maneira de combater, prevenir, certas situações é o desenvolvimento económico e social das regiões, e esse desenvolvimento económico e social ficou muitas vezes aquém do que desejaríamos”, afirmou, fazendo notar que a pandemia em que Portugal mergulhou devido à covid-19 também não ajudou à recuperação dos concelhos dizimados pelas chamas.
O Presidente da República precisou: “Tudo tem que ver com um problema que eu disse que é o desenvolvimento económico e social: onde há desenvolvimento económico e social, é mais fácil haver maior rapidez, uma resposta também no ordenamento do território; onde não há, é mais lenta a resposta.”
Em resposta à pergunta de um jornalista que o questionou sobre se foram as pessoas que falharam, Marcelo disse que “foi a comunidade”. “O Estado tem um papel importante a desempenhar, mas se não houver pessoas com meios para poderem agir… as pessoas é que são proprietárias, as pessoas é que podem ter uma palavra a dizer e, em muitos casos, não têm condições económicas e sociais para poderem dizer essa palavra, esse é o facto”, afirmou o Presidente da República, que teve a seu lado nesta visita vários membros do Governo.
“Como vivemos num Estado que não tem por princípio, mesmo por razões comunitárias, intervir (substituindo integralmente as pessoas)”, tem de “haver uma sociedade civil mais forte, e só haverá se não houver as desigualdades que existem Portugal e se não houver ainda regiões deprimidas em que as populações não podem cumprir essa missão”, acrescentou.