Observatório Independente para os incêndios florestais queixa-se de não ser ouvido

Confagri 26 Ago 2020

Fonte: tsf.pt

O presidente do observatório criado há dois anos lamenta a inexistência de um plano global para a floresta.

O Observatório Técnico Independente sobre incêndios queixa-se de não ser ouvido nas recomendações que vai deixando às autoridades. Dois anos depois da criação do organismo, o presidente Francisco Castro Rego faz, contudo, um balanço positivo e adianta alguma das conclusões de um relatório a ser apresentado em breve sobre a reflorestação do Pinhal de Leiria.

“Muitas das recomendações e opiniões que temos não têm tido a sequência que gostaríamos que tivessem”, começa por explicar Francisco Castro Rego, que diz sentir “uma certa frustração”.

Francisco Castro Rego lamenta a inexistência de um plano global para a floresta, lembrando que esteve em vigência, entre 2006 e 2018, “um plano nacional de defesa da floresta contra incêndios, que acabou em 2018 a sua validade”, mas este plano não foi substituído entretanto.

“Era normal que ele fosse substituído por um plano do mesmo tipo que cobrisse as várias vertentes que o plano nacional de defesa da floresta contra incêndios cobria. Inexplicavelmente, tem sido uma área que a AGIF (Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais) seria a protagonista principal a tentar desenvolvê-lo, mas este plano de gestão integrada de fogos rurais que lhe sucede foi sendo sucessivamente atrasado”, sustenta.

O observatório lamenta ser colocado numa “numa posição incómoda, porque vai tendo de repetir sucessivamente as recomendações que já fez anteriormente e que não têm tido o acolhimento e o desenvolvimento que deveriam ter”.

Na visão de Francisco Castro Rego, o reflorestamento não tem no país a atenção que merecia e o responsável critica a atuação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

“O aspeto da recuperação pós-incêndios é uma área que depois das chamas e do fumo desaparecerem as pessoas descansam e não dão a suficiente atenção àquilo que acontece depois, mas a floresta do futuro começa a fazer-se logo após o incêndio. Estivemos já este ano em visita ao Pinhal de Leiria, vamos produzir um relatório, fomos críticos a algumas intervenções que o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) está a fazer, sobretudo a questão da falta de ligação evidente entre as estruturas do ICNF e as estruturas mais locais, seja a Câmara Municipal como os observatórios e as iniciativas locais”, defende.

O observatório lembra que ainda há muito a fazer e aponta formação como a área em que é mais urgente intervir.

“A própria formação dos agentes não tem sido pensada de uma forma global. As várias entidades fazem as suas formações. Há aqui recomendações que o próprio Governo fez, logo em 2018, de criar uma estrutura de formação, associando as escolas aos bombeiros, às universidades e às várias agências e, nesse aspeto, o sistema continua completamente órfão de uma estrutura deste tipo. Diria que talvez seja esta a área onde menos se investiu e talvez seja esta uma das áreas mais prioritárias e mais estratégicas”, remata.

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Marta Soares, concorda com a ideia de uniformizar a formação para o combate a incêndios através da Escola Nacional de Bombeiros: “Há necessidade de a formação ser uma formação conjunta em que todos os operacionais envolvidos tenham lido pela mesma cartilha, chamemos-lhe assim, tenham feito a mesma formação, os mesmos cursos e que seja através da Escola Nacional de Bombeiros. Não podemos andar aqui com capelinhas, cada um a puxar para seu lado. Infelizmente, tem sido isso que tem acontecido.”

Jaime Marta Soares aproveita para realçar a capacidade técnica da instituição: “Nós bombeiros sentimos que estamos no caminho razoável, no bom caminho, porque a nossa escola é uma escola bem lançada dentro daquilo que são as estratégias adequadas para o socorro em Portugal, nomeadamente no que respeita a fogos florestais. Podemos considerar-nos mesmo o nível melhor na Europa e no Mundo.”

No entanto, o presidente da Liga de Bombeiros alerta para a falta de condições das instalações em que funciona a Escola: “A escola está em situação de funcionamento periclitante, porque necessita de obras físicas, há tetos a cair nos gabinetes, não apoiam essas obras e terá de fechar em alguns setores, porque infelizmente não arranjam dinheiro para as obras que são urgentíssimas.”

A importância da formação é uma ideia partilhada pelo antigo presidente da Liga dos Bombeiros, Duarte Caldeira, que lidera agora o centro de estudos e intervenção em proteção civil.

Entrevistado pela jornalista da TSF Sónia Santos Silva, Duarte Caldeira afirma que a formação tem sido alvo de uma visão simplista na qual só se pensa em mudanças quando acontecem tragédias: “A formação é hoje objetivo que deve reunir consensos e ações e não dividir corporações ou objetivos de poder. A formação é um objetivo demasiadamente importante para poder ser tratada de forma tão simplista, tão superficial e tão unilateral”.

Tal como Francisco Castro Rego, também Marta Soares se mostra muito crítico em relação ao trabalho da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF).

“Essa estrutura, esse elefante branco que nós não sabemos para que é que serve e o que é que já fez a não ser gastar dinheiro – o dinheiro que tanta falta faz para as tais ferramentas dos bombeiros. Eu gostaria que nos informassem o que é que tem feito. Havia necessidade dessa agência, mas essa agência para saber alguma coisa tem de ir aos bombeiros requisitar peritos. Por aí se vê o desnorte que tem havido”, remata.

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