Fonte: INE
As previsões agrícolas, em 31 de janeiro, apontam para uma diminuição de 25% na produção de azeitona para azeite, essencialmente devido ao fraco vingamento dos frutos. Apesar disso, as 734 mil toneladas previstas posicionam esta campanha como a sexta mais produtiva das últimas oito décadas.
Nos cereais de outono/inverno as sementeiras decorreram com atrasos pontuais, em particular nos solos mais sujeitos a encharcamento, apresentando um desenvolvimento normal para a época. Estima-se uma redução de 5% da área semeada de centeio, face a 2020, e a manutenção nos restantes cereais (trigo, triticale, cevada e aveia).
O mês de janeiro caracterizou-se, em termos meteorológicos, como muito frio e seco. A temperatura média, 8,0º C, apresentou um desvio de -0,8º C para a normal (1971-2000), tendo sido o quarto janeiro mais frio dos últimos vinte anos. Esta situação de frio generalizado, com vasta abrangência territorial, iniciou-se em 24 de dezembro e estendeu-se pelas duas primeiras décadas de janeiro, tendo-se registado em alguns dias (5, 6, 12 e 13) temperaturas mínimas inferiores a 0º C em mais de 70% das estações meteorológicas. Quanto à precipitação, o valor médio de 90,8 mm correspondeu a 77% da normal (117,3 mm), sendo que os valores mais significativos de precipitação verificaram-se entre 20 e 31 de janeiro.
No final de janeiro, e de acordo com o índice meteorológico de seca PDSI , voltou a verificar-se o aparecimento da classe de seca fraca em algumas zonas do Baixo Alentejo e do Algarve (numa área correspondente a 12% do território continental). A classe normal abrange 62% do território e as classes chuva fraca e chuva moderada os restantes 26%.
O teor de água no solo, em relação à capacidade de água utilizável pelas plantas, manteve-se próximo ou mesmo igual à capacidade de campo em grande parte das regiões Norte e Centro. No Baixo Alentejo e Algarve, e em particular nalgumas zonas com menor precipitação em janeiro, observavam-se valores inferiores a 60%.
Quanto às reservas hídricas, o volume de água armazenado nas albufeiras de Portugal continental encontrava-se nos 70% da capacidade total, valor superior ao registado no final do mês anterior (65%) mas ainda ligeiramente inferior ao valor médio de 1990/91 a 2019/20 (72%). À exceção da bacia do Mondego, observou-se um aumento das reservas hídricas em todas as bacias hidrográficas, em especial nas da região Norte (Lima, Cávado e Ribeiras Costeiras, Ave e Douro). Nas charcas e albufeiras de pequena dimensão as disponibilidades de água estão normais.
Estas condições meteorológicas e hidrológicas permitiram a realização da generalidade dos trabalhos agrícolas da época, nomeadamente as podas de vinhas e de pomares, a conclusão de sementeiras, a adubação de cobertura das searas de inverno e as mondas químicas, verificando-se algumas limitações nas operações realizadas em solos menos profundos/com pior drenagem (e, consequentemente, mais sujeitos a encharcamento). O desenvolvimento das culturas foi limitado, ainda que as baixas temperaturas tenham promovido o enraizamento e afilhamento dos cereais de inverno, bem como contribuído para acumular horas de frio (essenciais para a diferenciação dos gomos e indução floral).
Baixas temperaturas limitam desenvolvimento de pastagens e forragens
Os prados, pastagens e culturas forrageiras registaram um desenvolvimento vegetativo residual, habitual no inverno devido às baixas temperaturas e formação de geadas. O início de ciclo decorreu com normalidade, com boa germinação e povoamentos homogéneos, embora algumas pastagens mais sensíveis ao frio (por exemplo, com mais luzerna) apresentem uma coloração acastanhada. Como é comum nesta altura, a matéria verde das pastagens é insuficiente para suprir totalmente as necessidades forrageiras dos efetivos pecuários explorados em regime extensivo, sendo por isso suplementados com fenos, palhas, silagens e/ou alimentos concentrados, em quantidades que se consideram normais para a época do ano e muito semelhantes ao registado em igual período do ano anterior.
Área dos cereais de inverno com tendência para estabilizar
As sementeiras dos cereais de outono/inverno foram condicionadas pelos períodos de precipitação de novembro e dezembro, registando-se a interrupção destas operações quando as condições não eram agronomicamente aceitáveis (solos encharcados). Apesar disso, prevê-se que a área semeada seja semelhante à da campanha anterior para o trigo, triticale, cevada e aveia, e que registe uma diminuição de 5% no centeio.
Estas previsões apontam para uma tendência de estabilização da área semeada de cereais de inverno que, desde 1986, decresceu a um ritmo médio anual próximo dos 6%.
Cereais de outono/inverno com desenvolvimento regular
Ultrapassadas as dificuldades pontuais nas sementeiras, observaram-se boas germinações e emergências nos cereais de outono/inverno. A maioria das searas encontra-se na fase do afilhamento, com povoamentos regulares e um desenvolvimento vegetativo dentro do padrão normal para a época. As baixas temperaturas de janeiro permitiram um bom enraizamento e promoveram um afilhamento mais abundante. De referir que o encharcamento dos solos, em particular dos menos profundos e/ou situados em zonas baixas, dificultou a realização das mondas químicas, elevando o grau de infestação das searas instaladas nestes locais e contribuindo negativamente para o seu desenvolvimento.
Estima-se para a aveia (cereal de sementeira mais precoce e, consequentemente, o que apresenta maior avanço no ciclo de desenvolvimento) a manutenção do rendimento unitário face a 2020.
Produção de azeitona para azeite diminui 25%
Com a colheita da azeitona praticamente concluída, os cenários são regionalmente heterogéneos. Duma forma geral, no início do ciclo, e após uma boa floração, o vingamento não decorreu nas melhores condições e a carga de frutos inicial foi inferior à da campanha anterior. No entanto, no interior Norte e Centro, a precipitação que ocorreu próximo do final do ciclo produtivo dos olivais conduziu a um aumento do calibre da azeitona, proporcionando uma recuperação em muitos olivais tradicionais de sequeiro, perspetivando-se aumentos de produção face a 2019. Pelo contrário, no Alentejo, região onde os olivais modernos de regadio têm um peso muito significativo (e, consequentemente, a influência da ocorrência de precipitação na produção final é muito menor), foram as condições iniciais, nomeadamente o vingamento, que determinaram a evolução da campanha, menos produtiva que a anterior.
Globalmente estima-se uma diminuição de 25% da produção de azeitona para azeite, face a 2019. De salientar que, apesar do rendimento da azeitona em azeite (funda) ser menor que o alcançado no ano anterior, o produto final apresenta qualidade organolética e química dentro dos parâmetros normais.
Não obstante a diminuição registada, a produção permanece a níveis bastante elevados (será, previsivelmente, a sexta maior produção das últimas 80 campanhas), continuando claramente a evidenciar o fenómeno de safra/contrassafra (manifestação de alternância produtiva anual).