Fonte: INE
As previsões agrícolas, em 31 de janeiro, apontam para que a campanha oleícola de 2021 atinja a maior produção de azeite de sempre (2,25 milhões de hectolitros), consequência das excelentes condições agrometeorológicas ao longo da campanha e da profunda reestruturação da fileira, da qual se destaca a importância crescente dos olivais intensivos.
Em contrapartida, observam-se já os efeitos negativos da seca meteorológica severa e extrema que, no final de janeiro, afetava 45% do território continental. Um dos setores mais penalizados tem sido a produção pecuária, em particular a extensiva, devido às fracas condições de pastoreio, que obrigam a uma suplementação extraordinária destes efetivos. Na cerealicultura também se registam impactos, quer na diminuição das áreas semeadas (previsivelmente, a menor dos últimos cem anos), quer no fraco desenvolvimento vegetativo das searas de sequeiro. Este cenário de seca, aliado à subida dos preços dos meios de produção, tem gerado incerteza e preocupação crescente no setor.
O mês de janeiro caracterizou-se, em termos meteorológicos, como muito seco e quente. O valor médio da quantidade de precipitação, 13,9mm, correspondeu apenas a 12% do valor normal (1971-2000), posicionando este janeiro como o segundo mais seco desde 2000 e o sexto dos últimos 90 anos. Mais de 3/4 do território continental registou menos de 10mm de precipitação, concentrados na primeira década do mês. A precipitação média em Portugal continental dos primeiros 4 meses do ano hidrológico 2021/22 foi de 213,9mm, o valor mais baixo dos últimos 20 anos, aquém do registado na seca de 2005 (223,1mm).
Quanto à temperatura, o valor médio de 9,7°C foi superior em 0,8°C à normal 1971-2000, sobretudo devido às elevadas temperaturas máximas, que registaram o valor mais elevado desde 1931 (15,3°C). Destaque ainda para a onda de calor3 nalguns locais da região Norte e Centro, que se iniciou em finais de dezembro e terminou a 3 de janeiro, bem como para os extremos alcançados em 13 estações meteorológicas da rede IPMA.
Seca severa e extrema obriga à suplementação extraordinária dos efetivos pecuários
Nas regiões mais afetadas pela seca severa ou extrema (Sul e interior Norte e Centro), as condições de pastoreio agravaram-se, sendo muito deficitárias nas pastagens de sequeiro. O recurso a forragens armazenadas, palhas e rações industriais nos efetivos explorados em regime extensivo tem sido bastante superior ao normal para a época, o que penaliza o setor agropecuário devido ao aumento dos custos de produção. De referir que entre setembro e dezembro de 2021 o preço dos alimentos para animais aumentou 17%.
Área de cereais de inverno atinge mínimos históricos
As áreas de cereais de inverno para grão deverão ser inferiores às do ano anterior(-5%), resultado da dificuldade de execução dos trabalhos, bem como do risco associado à instalação das searas num quadro de escassez de precipitação e de índices de água no solo muito baixos.
Para além dos aspetos agrometeorológicos, o forte aumento do preço dos meios de produção poderá também ter contribuído para a diminuição das áreas dos cereais praganosos. Desde setembro de 2021, o preço dos adubos aumentou 73% e o do gasóleo colorido 7%, fazendo aumentar a incerteza e anulando o potencial efeito que a tendência altista dos preços destas commodities (em particular do trigo) nos mercados internacionais poderiam ter no aumento das áreas.
Esta conjuntura desfavorável veio reforçar a tendência de perda de importância dos cereais de inverno para
grão, prevendo-se uma área global a rondar os 103 mil hectares, a mais baixa dos últimos cem anos.
Seca afeta desenvolvimento das searas
O desenvolvimento das searas dos cereais praganosos tem sido muito condicionado pela escassa precipitação.
As semeadas no cedo encontram-se com fraco desenvolvimento vegetativo, especialmente as instaladas em solos mais delgados e com menor capacidade de retenção de humidade. Nos solos de maior aptidão cerealífera ainda pode ocorrer alguma recuperação do potencial produtivo, caso se registem valores significativos de precipitação durante o final do inverno/princípio da primavera. As searas que foram semeadas tardiamente não germinaram, devido à ausência de chuva no mês de janeiro, sendo a situação muito preocupante em todo Alentejo (região que representou mais de 3/4 da produção de cereais de inverno nos últimos cinco anos).
Para a aveia, cereal de sementeira mais precoce, prevê-se uma redução na produtividade na ordem dos 40%.
Produção record de azeite
A campanha oleícola de 2021 é a mais produtiva de sempre, devendo alcançar os 2,25 milhões de hectolitros de azeite (+46% do que a produção de 2019, o segundo melhor registo desde 1915).
Para este máximo de produção contribuíram as condições meteorológicas favoráveis, principalmente na floração e vingamento dos frutos, aliadas ao facto de ser um ano de safra. O aumento do peso dos olivais intensivos de regadio na estrutura do olival nacional também contribuiu de forma determinante para esta produção histórica de azeite.
De um modo geral, o azeite produzido apresenta boa qualidade, com baixa acidez e boas caraterísticas organoléticas.
Como aspeto menos positivo, destaca-se o esgotamento da capacidade instalada para o processamento do bagaço de azeitona, que levou mesmo à interrupção da laboração em alguns lagares.