Apesar da covid-19, preços dos alimentos a nível mundial caíram em março

Confagri 02 Abr 2020

Fonte: expresso.pt

Com os preços do petróleo em queda, a paragem de muitas economias à escala global e a retração da procura induzida pelas medidas de contenção no combate à pandemia, os preços dos alimentos recuaram, garante a FAO, a organização das Nações Unidas para a Alimentação. Em Portugal a situação mantém-se estável

Os preços dos alimentos a nível mundial caíram acentuadamente em março, impulsionados principalmente pelas contrações do lado da procura relacionadas aos efeitos da pandemia da covid-19 e ainda pela queda nos preços globais do petróleo, devido, principalmente, às expectativas de desaceleração económica, à medida que os governos adotam restrições para o combate à crise sanitária.

Esta é uma das principais conclusões do mais recente relatório da FAO – organização das Nações Unidas para a Alimentação – divulgado esta quinta-feira, sendo que o seu Índice de Preços dos Alimentos, que acompanha as mudanças mensais nos preços internacionais dos produtos alimentares, alcançou uma média de 172,2 pontos durante o mês, uma queda de 4,3% em relação a fevereiro.

Já em Portugal, e de acordo com o Gabinete de Planeamento do Ministério da Agricultura – que acompanha em permanência a evolução dos mercados agrícolas e agroalimentares – não há, até agora, registo de qualquer perturbação nos preços dos alimentos. Não houve aumentos, mas também não há registo de quebras de preços dos bens essenciais.

À escala global “as quedas de preços foram motivadas em grande parte por fatores relacionados com a procura e não vieram do lado da oferta. O comportamento da procura está a ser influenciado por perspetivas económicas cada vez mais deterioradas”, disse esta quinta-feira em comunicado o economista chefa da FAO, Abdolreza Abbassian.

Já Peter Thoenes, analista daquela mesma organização, refere que “os preços do petróleo caíram para mais de metade no mês passado, o que catalisa um grande impacto sobre os biocombustíveis, que são uma importante fonte de procura nos mercados do açúcar e dos óleos vegetais”.

CERAIS EM QUEDA

O FAO Dairy Price Index caiu 3%, impulsionado pelas cotações de várias matérias-primas em queda e também pela procura global de leite em pó desnatado e integral, devido em grande parte às interrupções nas cadeias de suprimentos de laticínios, devido às medidas de contenção destinadas a controlar a propagação do COVID-19.

Já o Índice de Preços dos Cereais da FAO caiu 1,9% no passado mês de março, em relação a fevereiro, e atingiu quase o nível de março de 2019.

Os preços internacionais do trigo caíram, pois a acumulação de grandes stocks à escala global e as perspetivas de safras amplamente favoráveis ​​superaram o efeito do aumento da procura para importação no norte da África e pequenas limitações de exportação impostas pela Federação Russa. Os preços do milho, por seu lado, também caíram devido à grande oferta e à procura muito mais fraca do setor de biocombustíveis.

Já os preços internacionais do arroz, por outro lado, aumentaram pelo terceiro mês consecutivo, com as cotações da Índia impulsionadas por stocks estimuladas por preocupações com a pandemia e relatórios de que o Vietname poderá avançar com proibições às exportações.

APELO AO G20 PARA GARANTIR SEGURANÇA DE ABASTECIMENTO

O diretor-geral da FAO, QU Dongyu, apelou aos líderes nacionais do G20, na semana passada, que se garanta que o comércio agrícola “continue a desempenhar o seu papel importante na contribuição para a segurança alimentar global” e para evitar políticas que impedem os fluxos comerciais que sustentam os sistemas de abastecimento de alimentos.

A FAO garante ainda que está a acompanhar de perto os preços e a questão logística das commodities (matérias-primas) alimentares, com o objetivo de alertar os países sobre problemas que possam surgir induzindo em eventuais interrupções durante a pandemia.

A previsão da FAO para a produção mundial de trigo para 2020 permanece inalterada em relação às estimativas do mês avançadas em fevereiro, prevendo-se que se situe no nível quase recorde do ano passado, que, juntamente com as grandes reservas existentes, ajudará a proteger os mercados de alimentos das turbulências durante a pandemia da coronavírus.

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