O clima está a aquecer e os oceanos também

Confagri 25 Set 2019

Fonte: expresso.pt

Cientistas alertam para a aceleração de fenómenos extremos em consequência da crise climática e dos seus impactos nos oceanos e na criosfera. “As escolhas feitas agora são críticas para o futuro”, sublinham. Pela frente, vislumbram-se cenários de subidas do nível do mar e fenómenos extremos que podem afetar diretamente perto de um quinto da população mundial já em meados do século. Entretanto, os oceanos já estão mais quentes, mais ácidos e menos produtivos.

O Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) sobre os oceanos e a criosfera, divulgado esta quarta-feira, alerta mais uma vez para a matemática óbvia da ciência. O aquecimento global está a acelerar mudanças nos oceanos (que cobrem 97% do Planeta) e nas partes geladas da terra (a criosfera, guardiã de 69% da água doce da Terra). Uns e outros preparam-se para retribuir da forma mais drástica, avisam os cientistas.

Com a crise climática em curso, fenómenos extremos – como os recentes furacões Dorian nas Bahamas, ou Idai em Moçambique – que aconteciam uma vez a cada 100 anos passarão a anuais, provavelmente, já a partir de meados do século. Também a intensidade destes ciclones tropicais vai aumentar, mesmo que as temperaturas subam apenas 2ºC, em vez dos 3 a 4ºC que se projetam tendo por base os cenários mais drásticos com base nos compromissos assumidos até agora pelo governantes mundiais que assinaram o Acordo de Paris.

As intempéries e inundações, agravadas pela subida do nível do mar podem afetar as mais de mil milhões de pessoas que em 2050 vão estar a viver nas zonas costeiras baixas. Atualmente são 680 milhões. O derretimento das partes congeladas do planeta, não só nos Polos, como nas montanhas, dos Alpes aos Himalaias, põe em risco mais de 600 milhões de pessoas, ao afetar os recursos aquíferos e aumentar o risco de avalanches, desmoronamentos de terras. Entretanto, as quatro milhões de pessoas que vivem no Ártico ou as 65 milhões que habitam as ilhas Estado do pacífico serão as primeiras a ser afetadas.

O relatório do IPCC agora divulgado surge como mais uma forma de chamar a atenção para a necessidade de se acelerar a ação climática e de proteger os oceanos. O documento – elaborado por mais de 100 cientistas de 36 países com base em mais de 7000 papers científicos – representa o mais exaustivo estudo feito até à data sobre a severidade dos impactos climáticos nos oceanos e na criosfera.

“As rápidas mudanças nos oceanos e é nas partes geladas do planeta estão a forçar asvpessoas das zonas costeiras e das comunidades remotas do Ártico a mudar as suas formas de vida”, lembra Ko Barrett. A vice-presidente do IPCC lembra que “se se entenderem as causas destas mudanças e os impactos delas resultantes é possível fortalecer a capacidade de adaptação”.

NÍVEL DO MAR A SUBIR E GLACIARES A ENCOLHER

Os cientistas lembram que nas últimas décadas o aquecimento global fez encolher a criosfera e perder massas enormes de gelo marinho e glaciares, assim como neve nas terras mais altas. Desde 1970 que os oceanos têm vindo a absorver mais de 90% do excesso de calor acumulado no planeta, e desde 1993 que a taxa de aquecimento dos oceanos mais que duplicou, indica o relatório hoje apresentado no Museu Oceanográfico do Mónaco.

Só nos últimos 39 anos os oceanos absorveram entre 20 e 30% do CO2 emitido pela atividade humana, o que tem provocado acidificação e perda de oxigénio nos mares, com consequências nefastas para ecossistemas e espécies marinhas. E neste processo desestabilizador, associado às alterações climáticas causadas pelo homem, começam a surgir “ciclos de feedback”, já que a perda de solo permanentemente ou a destruição de mangais e pradarias marinhas nos oceanos acabam por emitir o CO2 acumulado. E o ciclo repete-se.

Globalmente o nível médio do mar subiu cerca de 15 cm durante o século XX, mas esta subida está mais rápida e já duplicou a sua tendência anual. As projeções indicam que pode subir globalmente um metro ou mais face às emissões de gases de efeito de estufa esperadas, mesmo que se consiga limitar a subida das temperaturas a 2 graus Celsius.

Também em terra, ecossistemas, animais e plantas são afetados pelas alterações hidrológicas associadas ao degelo. Assim como as comunidades humanas, já que o impacto da afetação da criosfera atinge a segurança alimentar, os recursos hídricos, a saúde e bem estar, assim como a indústria do turismo ou da agricultura.

Porém, o relatório não se fica só pelo diagnóstico, também apresenta soluções para ajudar os governos a mitigar estes impactos, criar resiliência e proteger os oceanos. “O mar aberto, o Ártico, a Antartida e as montanhas altas podem parecer muito longínquas para muitos, mas todos dependemos destas áreas ou somos influenciados direta ou indiretamente por elas de muitas formas, como para a regulação do clima, ou para obter alimentos, água ou energia, saúde, comércio, turismo ou identidade cultural”, sublinhou Hoesung Lee, presidente do IPCC, na apresentação do relatório. E deixou o recado: “se reduzirmos as emissões drasticamente, ainda haverá consequências para as pessoas e as suas formas de vida, mas potencialmente melhor geríreis para os mais vulneráveis”.

Os ambientalistas sublinham a necessidade de os governantes acordarem e olharem para as soluções que têm pela frente pensando em mitigar e adaptar.

“Vivemos num mundo em mudança e teremos que nos adaptar”, afirma o ambientalista Francisco Ferreira. O presidente da Zero sublinha que “os glaciares, pólos e oceanos do mundo continuarão a se desestabilizar nas próximas décadas e séculos, pois respondem ao aquecimento que os seres humanos já causaram”. Por isso, considera que “a escala de destruição depende dos nossos líderes políticos. As alterações serão muito piores se os governos não fizerem tudo o que puderem para descarbonizar e pressionar por uma neutralidade carbónica à escala mundial em 2050 (ou antes). Sem essa ação, o rápido aquecimento global que está a ocorrer transformará o planeta até ao final deste século, com zonas costeiras submersas , glaciares derretidos e perdidos permanentemente”.

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