Contribuições de cada país “não estão numa trajetória de limitar o aquecimento a um nível baixo”

Confagri 29 Jan 2020

Fonte: jornaleconomico.sapo.pt

Cerca de 260 especialistas estão reunidos em Faro para avançar na elaboração do sexto relatório ambiental que deverá ser publicado entre 2021 e 2022. Ao JE, Maria Lemos considera que apesar de “estarmos atrasados, não podemos parar de trabalhar”.

O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês) escolheu a Universidade do Algarve, para reunir as pesquisas de especialistas de mais de 60 países para a elaboração do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) que tem como principal foco o impacto das alterações climáticas nos sistemas naturais e humanos e as suas vulnerabilidades. Desta reunião resultará um esboço do relatório, que irá ainda ser revisto pelos governos e especialistas em agosto de 2020. O relatório, que incluirá também as contribuições dos outros dois grupos de trabalho do IPCC, será finalizado em 2021.

Maria Lemos, especialista em adaptação das cidades e urbanização e uma dos membros do IPCC, sentou-se com o Jornal Económico para avaliar os progressos, atuais riscos e realidades.

Até dia 1 de fevereiro os es Até dia 1 de fevereiro os especialistas do IPCC vão estar reunidos na Universidade do Algarve. O que significa esta reunião? pecialistas do IPCC vão estar reunidos na Universidade do Algarve. O que significa esta reunião?

Esta é a terceira reunião de um processo que leva quatro anos para a elaboração deste assessement. Estamos a fazer uma avaliação das publicações cientificas e dos 16 mil comentários que recebemos sobre os relatórios e as temáticas especificas de cada grupo, que foram publicados pelo IPCC. Por exemplo, o meu campo de estudos são as cidades e a urbanização e integro no capítulo sobre a América do Sul e Central e nós estamos agora a a rever e analisar a literatura mais recente. O grupo que está aqui hoje reunido é o grupo II, que trabalha com vulnerabilidade, impacto e adaptação.

Olhando para os relatórios anteriores, como têm sido os progressos? Têm sido suficientes?

O progresso é muito lento em relação à urgência do problema e um dos nossos desafios neste AR6 é conseguir comunicar essa urgência. As emissões continuam a subir, as populações e a biodiversidade continua em risco. Cada aquecimento conta.

Não é uma questão de ficarmos alarmados e acharmos que não há mais nada a fazer. Tudo aponta para que se não fizermos nada teremos problemas muito graves. Estamos atrasados, mas não podemos parar de trabalhar. Nada está perdido. É importante referir que todos são responsáveis, não são só os gestores públicos. Todos têm um papel.

Consideram que a resposta dos governos tem sido positiva? Estão receptivos às conclusões do IPCC?

O governo não é o único responsável. O nosso trabalho aqui no IPCC é dar informação para que os governantes possam tomar decisões, à escala global, nacional e local. Mas todos têm um papel. Inclusive porque se a população estiver mais informada pode cobrar esses governos que não estão a responder adequadamente às exigências. O objetivo é informar os governos sim, porque isto é um painel intergovernamental que oferece este material para os governos poderem trabalhar, mas também gostaríamos de alcançar a população geral. E aí o papel dos media é muito importante.

E entre os cidadãos? Nota que existe uma vontade de mudar e fazer melhor?

Eu acho que a cada dia que passa as coisas melhoram um pouco. Mas ainda estamos muito longe de ter a realidade necessária. A mensagem que estamos a dar é a de que não está a ser suficiente.

O papel dos media é importante neste aspeto porque sem os meios de comunicação não existe maneira de fazer a informação chegar. Nós temos um papel de trabalhar numa linguagem sensível, porque se usarmos uma linguagem muito técnica e cientifica ninguém vai entender. Então é importante figuras como a Greta que têm um papel de mobilizar a população e os media terem uma cobertura sobre o que está a ser feito.

Isto em termos globais?

Sim. É preciso ter uma visão global porque se não perde-se a ligação entre as coisas, porque está tudo interligado: aquecimento global, subida do nível dos mares, incêndios florestais. Precisamos de ter consciência dessa urgência e agir, devemos todos trabalhar no mesmo sentido. A velocidade com que nos estamos a adaptar é muito inferior à necessidade e à urgência do problema porque os forços atuais não são suficientes para limitar o aquecimento.

Sendo cientista de um país cujo o presidente não acredita nas alterações climáticas (Brasil), isso torna-se numa entrave para o seu trabalho?

No mundo inteiro existe sempre essa colisão entre ideias mais progressistas e ideias menos progressistas que muitas vezes atrasam o trabalho da ciência, mas isso acontece no mundo inteiro. Temos que continuar a fazer o nosso trabalho.

Quantos mais relatórios espera o IPCC continuar a publicar?

Os relatórios têm a sua periodicidade. Mas é claro que a partir do momento em que consigamos construir resiliência e mitigar as alterações climáticas talvez já não precisemos de fazer mais relatórios. Tomara. Por enquanto ainda precisamos. A ciência está a avançar neste tema. A importância de termos relatórios a este ritmo é que nós vamos atualizando essa informação consoante o progresso da ciência.

Otimista em relação ao que vem no futuro?

Os cientistas são otimistas. Quer dizer, se me perguntar a mim, enquanto cientista, digo-lhe que os cientistas são pragmáticos e que nós trabalhamos com factos e informações. Mas se me perguntar enquanto Maria Lemos, sim, estamos otimistas.

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