O diálogo político entre Portugal e Espanha na gestão da água dos rios ainda é insuficiente, disse à agência Lusa o presidente da comissão organizadora do X Congresso Ibérico de Gestão e Planeamento da Água.
«Ao nível social e das organizações não-governamentais essa articulação é mais forte do que ao nível político e isso tem de ser alterado», preconizou João Pedroso de Lima, salientando que existem «rios em que o diálogo entre Portugal e Espanha ainda não é o que devia ser».
O professor de hidrologia e recursos hídricos da Universidade de Coimbra, cidade onde vai decorrer esta quinta e sexta-feira o congresso organizado pela Fundação Nova Cultura da Água, considera que «tem de haver um real interesse político para que as relações sejam melhoradas».
Para o presidente do X Congresso Ibérico de Gestão e Planeamento da Água, o plano de adaptação às alterações climáticas «ainda não está a ser implementado como devia ser» devido a insuficiências na articulação dos dois vizinhos ibéricos.
Defendendo que Portugal precisa de uma nova política da água, o antigo presidente da EPAL (Empresa Portuguesa das Águas Livres), João Bau, lamentou que as questões da água «não contem» para a agenda política e «não tenham centralidade».
O investigador, que integra o comité científico do congresso, entende que Portugal precisa de «instrumentos para negociar com Espanha», de onde vêm os grandes contributos sobre o setor, «para combater as alterações climáticas», problema para o qual já existe no país «uma consciência acrescida» depois dos incêndios graves e das secas severas de 2017.
O X Congresso Ibérico de Gestão e Planeamento da Água reúne em Coimbra mais de 200 especialistas que vão debater a gestão dos rios, as políticas europeias sobre a água e os impactos das alterações climáticas.
A iniciativa, única na área, que cumpre 20 anos desde que se reuniu pela primeira vez em Saragoça, reúne no mesmo evento o mundo académico e administrativo com os grupos sociais e ambientais defensores dos rios e dos ecossistemas fluviais de Espanha e de Portugal.
Para o espanhol Pedro Arrojo, nestas duas décadas o setor da água tornou-se interdisciplinar e deixou de ser um tema apenas para profissionais de hidrologia, o que representou um diálogo «muito dinâmico e ativo, um sucesso».
Como segundo ponto positivo, o especialista em Ciências Físicas apontou a diretiva-quadro da água «que veio dar razão aos argumentos defendidos no primeiro congresso», de maneira que as «ideias iniciais se transformaram em políticas e leis europeias».
Um terceiro aspeto, que na opinião de Pedro Arrojo falhou parcialmente, foi a perspetiva ibérica, que «não foi desenvolvida com toda a potência que podia ter sido, talvez porque houve momentos sociais e políticos de diferente sensibilidade entre Portugal e Espanha».
As jornadas, abertas ao público, decorrem no Auditório Laginha Serafim, no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra, e estão divididas em quatro temáticas. Esta quinta-feira debatem-se as questões legislativas da Diretiva-Quadro da Água da União Europeia e a manutenção, a conservação e a restauração dos ecossistemas aquáticos.
Na sexta-feira, os participantes no congresso discutem as alterações climáticas, os seus impactos e possíveis soluções, bem como a dimensão sociocultural da água, focando os aspetos éticos, educativos e dos direitos humanos.
Fonte: Diário de Notícias