Verão prolongado está a prejudicar negócio das castanhas

Confagri 13 Nov 2017

Chega o Outono e o fruto da época que mais apetece é a castanha. Contudo, este ano o cenário é um tanto ou quanto diferente. A seca severa, a ausência de chuva e as temperaturas acima dos 30 graus Celsius nalgumas zonas do país fizeram de 2017 o segundo ano mais seco e quente de que há memória. E também a produção de castanha sofreu as consequências deste ano atípico.

Nem a “capital da castanha” no concelho da Guarda, Videmonte, escapou. O presidente da Junta fala numa quebra na produção de mais de 80 por cento. «Foi um ano catastrófico. Videmonte é a zona com mais produção de castanha, com bastante qualidade, mas este ano foi mesmo para esquecer», lamenta Afonso Proença, que responsabiliza a seca e as temperaturas altas pelo flagelo.

O fruto começou a cair mais cedo do que previsto e quando chegou ao solo ninguém o apanhou. «Vinha miúda. Não me lembra de haver tão pouca castanha», sublinha o autarca, para quem os produtores vão ter também uma quebra acentuada no rendimento. «Como há pouca castanha e a qualidade também deixa a desejar, o preço praticado ronda o valor de um euro», adianta Afonso Proença, segundo o qual a Martaínha grossa é «a única» que está a ser vendida a 1,50 euros.

A qualidade escasseia e, por consequência, a procura também. «Em anos anteriores chegavam aqui e enchiam camiões. Este ano levam um saco ou dois», acrescenta o presidente da Junta de Videmonte. O facto de os castanheiros estarem em «zonas que não são de cultivo, não regantes», torna difícil fazer frente a anos de menos chuva como este: «Aquilo que vejo na freguesia é que todos os anos que forem secos não haverá produção de castanha», alerta o presidente.

Manuel Alberto é um dos maiores produtores de castanha em Videmonte e dedica-se ao negócio há mais de 20 anos. Recorrendo ao ditado antigo que diz que “o castanheiro não é marinheiro”, o agricultor afirma que esta árvore «não é de regadio», mas precisa de alguma humidade: «Se não houver, como não houve este ano, não há castanhas», assegura. Com cerca de dez hectares de castanheiros, Manuel Alberto diz que «o calibre é menor e não há qualidade. Não se faz dinheiro para o investimento que fizemos». E lembra um ano em que também veio uma geada negra que afetou a produção. «Vieram temperaturas negativas durante duas noites e foi uma coisa terrível. Apanhou o fruto que estava dentro e fora do ouriço. Não se conseguia vender, nem se apanhava porque não tinha saída», recorda o produtor, que garante que «não houve um ano tão mau em termos de secura como este».

Os prejuízos são avultados, mas o que mais preocupa Manuel Alberto é a possibilidade das árvores não se renovarem: «Tenho algum receio que os castanheiros não tenham capacidade de rejuvenescer devido à seca extrema. Já choveu, mas isto ainda não é chuva que chegue lá abaixo», queixa-se. Também a ausência do frio não ajuda. «Vai havendo no mercado, mas não há saída. As pessoas não procuram», constata, dizendo esperar que possa ser ressarcido do prejuízo. «O Governo podia atribuir um subsídio à quebra de produção, por área ou árvore, para minimizar as perdas», exemplifica o produtor.

Em Trancoso, a produção foi afetada de forma variável consoante a zona do concelho. Pedro Fidalgo, técnico do município e responsável pelo projeto Trancast, refere que «há zonas que mantêm uma produção razoável e há outras com uma quebra de mais de 80 por cento».

Esta variação deve-se ao facto de uma parte do concelho ter sido afetada por uma geada negra, caso das freguesias de Rio Mel e Trancoso, e outra pela ausência de precipitação. Em termos de produção de castanha, o concelho é o quarto a nível nacional e anualmente tem uma venda direta de cerca de quatro milhões de euros. «Se estivermos a falar de 900 pessoas com castanheiros, indiretamente, falamos de quase três mil pessoas que são afetadas pela produção de castanha ser maior ou menor», estima Pedro Fidalgo. Ainda que seja cedo para fazer uma avaliação fidedigna, o técnico do município avança que o valor anual pode ser «reduzido a cerca de metade». Num concelho em que a Martaínha é a variedade principal, é essencial que chova e que venha frio: «Era importante que no Inverno tivessemos bastante gelo», ambiciona Pedro Fidalgo, explicando que isso «mataria a maior parte da bicharada das castanhas».

Por agora o cenário não é animador, mas há esperança de que as coisas melhorem nas próximas semanas. Atualmente o preço médio da castanha situa-se nos 2,50 euros, mas prevê-se uma subida: «Estive a falar com um dos maiores compradores de castanha de Trancoso que me dizia que, de uma semana para a outra, o preço cresceu quase 40 por cento», exemplifica o responsável, garantindo que «com as temperaturas mais baixas há novamente mais procura». No entanto, Pedro Fidalgo afirma que o pior deste ano é o bichado e a vespa da galha do castanheiro que continua a causar alarme na região. «É um problema recente em Portugal. Trata-se de uma espécie de mosquito que cria um ovo na zona onde devia nascer o ouriço e impossibilita que isso aconteça», elucida o responsável pelo Trancast, adiantando que o combate a esta praga só é possível com «outro bicharoco» vindo da China.

«No ano passado, a Câmara de Trancoso investiu cerca de sete mil euros na aquisição dos bichos bons para extinguir os maus», recorda Pedro Fidalgo, afiançando que este é «dos problemas mais graves» que afeta a produção: «Temos árvores em Trancoso que não têm um único ouriço», lamenta.

O cenário é comum a vários concelhos do distrito. Em Aguiar da Beira a produção diminuiu «em termos numéricos» e de uma forma geral «todos os produtores se queixaram que o bichado está muito mais acentuado», confirma a engenheira Manuela Silva. A técnica do gabinete de Agricultura do município diz que isso baixa o valor da castanha, o que se «nota bem nos preços praticados». E continua: «A castanha está quase toda cheia de bicho e não é consumível, pelo que as pessoas deixam de a comprar», lamenta Manuela Silva. Anos como estes surgem inesperadamente, mas há medidas que se podem tomar para, pelo menos, atenuar a situação. «Mais do que nunca as pessoas têm de pensar em instalar sistemas de rega», recomenda a engenheira da Câmara de Aguiar da Beira.

Fonte: O Interior

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