Os grandes incêndios do ano passado só agravaram um problema que já vem de longe. Os viveiros não produzem muitas árvores florestais porque o risco é grande e a procura andava em baixo. Agora que tudo corre para o campo para torná-lo mais verde, faltam os exemplares nas lojas.
As árvores precisam do seu tempo para passarem de semente a planta, já se sabe. E quando foi o tempo de pensar em que espécies criar em viveiro, ainda Portugal não tinha sido atacado por dois grandes incêndios, que queimaram 225 hectares de floresta.
Limpos alguns desses terrenos em cinzas, e depois da época das chuvas começar, este ano mais devagarinho do que noutras datas, foi tempo de pensar em voltar a pintar estes cenários de verde, muitos têm sido os voluntários que se dedicam à reflorestação do que ardeu em junho e em outubro no centro de Portugal. Mas, com isso, veio também a corrida aos viveiros, à procura das árvores mais adequadas.
Resultado: neste momento, a maioria dos viveiristas está sem plantas para vender a quem quer espécies autóctones. Até porque, para comercializar essas árvores, há que estar certificado pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), como explica Octávio Ferreira, engenheiro deste organismo afeto ao Ministério da Agricultura.
Eulália Crespo, presidente da Junta de Freguesia de Souto de Carpalhosa e Ortigosa, no concelho de Leiria, sentiu essa falta na pele, quando quis juntar-se à Siemens numa ação para reflorestar a Charneca do Nicho. Já não encontrou carvalhos. E, para conseguir pinheiros bravos e mansos, sobreiros e medronheiros foi uma «tragédia». Depois de a Junta bater à porta de vários viveiros, conseguiu os cerca de 13 mil exemplares em duas casas da especialidade, uma na Batalha, outra na região de Leiria.
José Cancela, viveirista há 25 anos, na zona da Anadia, nunca viu nada assim. No mesmo ano em que viu a sua produção de eucalipto, em que assentava a grande parcela do seu negócio no Melo & Cancela, cair em 50 por cento, assistiu a uma procura desmesurada de pinheiro bravo, que fez esgotar todos os stocks que ele e os seus vizinhos armazenaram. «Tudo o que se produziu já está vendido», nota. E acrescenta que a maioria das vendas foi para particulares, que o Estado ainda não meteu as mãos na terra ardida.
O preço, estranhamente, não acompanhou a procura. Ou seja, mantém-se nos 12 cêntimos para cada pezinho de pinheiro bravo. José Cancela garante à VISÃO que não houve especulação. E o valor só sobe quando há que recorrer ao estrangeiro para fazer face às encomendas, o que já aconteceu.
Além dos pinheiros, o Melo & Cancela tem vendido imensos freixos, carvalhos e castanheiros. «Ainda agora aviei uma carga de folhosas para a Madeira e já não tenho mais nada de carvalhos».
José Cancela também alerta para a dificuldade em encontrar sementes, porque foi um ano muito seco e as que se encontram por aí não reúnem as condições mínimas para que a planta cresça saudável. «Não houve sementes de sobreiro nem de quercus e a seca é a culpada por elas não terem maturado a tempo e horas», explica
As plantas florestais autóctones têm de ser certificadas e essa certificação só tem um ou dois anos de validade, consoante a espécie, depois só podem ser vendidas como ornamentais. Isso faz com que os stocks desse tipo de árvore seja pequeno, para que os riscos sejam menores. A legislação também é implacável quando se está perante alguma doença num viveiro, o local é imediatamente posto de quarentena por dois anos. Por exemplo, as resinosas, família onde se inserem os pinheiros, são muito atreitas a um fungo que anda no ar e que pode ditar a destruição de todas as plantas de um viveiro.
Fonte: Visão