Os autarcas de Boticas e Montalegre pediram ao governo medidas «diferentes» para a região do Barroso, classificada como Património Agrícola Mundial em 2018, por ter características «diferentes e únicas» do resto do país.
Congratulando-se com a distinção, os presidentes destas câmaras municipais, do distrito de Vila Real, lembraram que os incentivos atuais não chegam, sendo necessário objetivos mais concretos para que as pessoas continuem a viver e a produzir no território.
Estas reivindicações foram feitas pelos líderes dos executivos municipais na cerimónia de assinatura do plano de ação que vai ser implementado na região do Barroso, que decorreu em Montalegre, distrito de Vila Real, presidida pelo ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos.
Aproveitando a presença de um membro do Governo, o presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, lamentou o facto de a região não ter sido contemplada no Plano Nacional de Investimento (PNI) 2030, defendendo que esta deve começar a ser tratada de maneira diferente.
«Se é diferente deve ser tratada de forma diferente, ter medidas diferentes e não medidas que nos impõem nos programas nacionais para sermos iguais ao Alentejo ou a outras regiões do país», considerou.
O autarca realçou ainda a vontade em fixar população no território e evitar a fuga da população por falta de oportunidades. «Não queremos que as pessoas venham apenas cá tirar fotografias excelentes e que se deslumbrem, porque depois vão embora e não deixam mais-valias no território», vincou.
Fernando Queiroga destacou que esta classificação vem provar que o Barroso é «de facto um território diferente» com uma «tipicidade de paisagem e agrícola diferente». Contudo, o autarca lembrou a existência de um «problema grave» assente na perda de população e no abandono das terras, pedindo por isso mais incentivos.
Esta distinção é encarada pelo edil de Boticas como «uma responsabilidade acrescida» e que não deve ser desperdiçada. «Não podemos perder este selo único no país e o Ministério da Agricultura tem aqui uma responsabilidade», concluiu.
Partilhando da mesma posição, o homólogo de Montalegre, Orlando Alves, considerou que este concelho sai prejudicado por ser «ultraperiférico». Contudo, essas dificuldades são atenuadas pelo «saber fazer» e persistência das gentes do Barroso, disse, acrescentando que o concelho tem um «cardápio» interessante de propostas no âmbito deste plano de ação.
«Temos a felicidade de ter uma comunidade ainda muito operativa, interventiva e colaborante. Temos uma relação de proximidade com agentes territoriais, patrimoniais, económicos, culturais e temos um conjunto vasto de associações que estão no terreno a fazer a ligação com os resistentes produtores pecuários e agricultores», referiu.
O responsável vincou que a região tem «a distinta honra» de ser a única do país com potencial para a produção de batata de semente, de ter a raça barrosã e a «chamada comida de verdade».
O território do Barroso, que se estende pelos concelhos de Boticas e Montalegre, no distrito de Vila Real, foi designado em abril do ano passado o primeiro sítio Globally Important Agricultural Heritage Systems (GIAHS), ou seja, Sistema Importante do Património Agrícola Mundial, em Portugal.
Fonte: Lusa