Portugal recuperou a sua média anual de produção de vinho, com 6,7 milhões de hectolitros em 2017, e aumentou as exportações para os três milhões de hectolitros, a valerem 752 milhões de euros, o que mantém o país como o nono exportador mundial, de acordo com o relatório anual da Organização Internacional da Vinha e do Vinho apresentado esta semana.
No fundo trata-se de uma recuperação, após um ano mau, a nível de produção e de exportações, com Angola a voltar a comprar vinho português em quantidade, sobretudo vinho não certificado, antes conhecidos como vinhos de mesa, segmento em que os preços baixaram. Para responder a esta procura, Portugal ainda recorre à importação de vinho, sobretudo de Espanha, para depois reexportar. Nos mercados de maior valor, com os vinhos DOC (Denominação de Origem Certificada) e Indicação Geográfica Protegida (IGP) houve subida nos preços.
O presidente da ViniPortugal aponta dois fatores para que tenha havido um aumento de produção em Portugal em contraciclo com o registado a nível global, em que segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) os 250 milhões de hectolitros de vinho produzidos em 2017 são um dos valores mais baixos de sempre. «No ano anterior tínhamos produzido menos que o habitual em Portugal e agora recuperamos para o que é a nossa média. Por outro lado, o ano foi bom em termos de clima, apesar da seca. Teve dias secos mas noites frescas, sem grandes incidentes climatológicos, como granizos, geadas ou chuvas. Itália, Espanha e França sofreram mais com o clima», disse ao Diário de Notícias Jorge Monteiro.
Desta forma, Portugal atingiu em 2017 os 6,7 milhões de hectolitros produzidos, «recuperando muito bem e entrando de novo na média nacional que tem sido de 6,6 milhões», aponta o responsável da ViniPortugal, a organização interprofissional do vinho de Portugal, que agrupa estruturas associativas e organizações de profissionais ligadas ao comércio, à produção, às cooperativas, aos destiladores, aos agricultores e às denominações de origem. Dos 6,7 milhões produzidos, três milhões foram a exportação, indica o relatório anual da OIV. De acordo com o documento da OIV, Portugal cresceu nas exportações em volume e em valor. «Os resultados estão em linha com o habitual. Estamos em crescimento e, a nível mundial, apesar de haver uma diminuição da produção, o consumo até subiu e está estável», disse ao Diário de Notícias Frederico Falcão, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).
Os preços do vinho português são contudo díspares. Jorge Monteiro alerta que «há várias formas de ler os preços», e aponta que há segmentos em consolidação, como são os casos dos DOC, como os vinhos verdes, do Douro e do Dão, e os IGP, sendo Setúbal um exemplo, a conseguirem crescimento de 1 e 2 por cento. Isto, com dados já referentes a fevereiro de 2018, os últimos conhecidos. Os vinhos do Porto tiveram uma descida no preço médio mas «é circunstancial».
Os vinhos não certificados é que sofreram redução acentuada de preços. «Baixaram muito e isso tem que ver com o volume exportado para Angola». Após uma quebra brutal em 2016 motivada pela crise, o país africano é um dos principais importadores de vinho português, o nono na tabela geral, mas sobretudo destes vinhos não certificados, com 2017 a registar um aumento de 40 por cento, segundo dados do Instituto do Vinho e da Vinha. O Brasil registou também um forte aumento, de 53 por cento, mas aqui com muito maior valor, mais 60 por cento, do que Angola.
O mercado dos vinhos não certificados origina que a produção em Portugal não consiga satisfazer a procura. «Portugal tem um défice crónico, a produção não é suficiente e importamos vinhos, sobretudo de Espanha, para satisfazer o consumo», diz Jorge Monteiro. Frederico Falcão admite que «importamos para reexportar», mas tal não afeta a reputação dos vinhos nacionais. «Estamos a falar de gama baixa mas em que os produtores sabem o que estão a comprar. Não vai desvirtuar a produção nacional», afirma o presidente do IVV.
A OIV assinala também que Portugal regista uma redução da área vinícola, apesar de a produção aumentar. Jorge Monteiro desvaloriza estes indicadores. «De um modo geral são atualizações administrativas. Há uma tendência de redução de área, a maioria por abandono de terras por pequenos proprietários. E isso reflete-se. É como os cadernos eleitorais, quando se fazem atualizações». De 220 mil hectares, o território nacional regista agora 190 mil de área de produção vinícola.
A nível mundial, Portugal apresenta-se mesmo como «o país que por hectare menos vinho produz», o que é justificado por ter muita vinha de montanha, no Douro, e não existir prática de rega na vinha. Regiões como o Douro e o Alentejo são secas, com solos relativamente pobres, com clima quente, e isso reflete-se na quantidade de vinho por hectare. Mas, alerta Jorge Monteiro, a solução em Portugal não é a rega, indicada para produzir em volume como faz Espanha.
Em relação à redução da produção mundial de vinho, o presidente da ViniPortugal recorda que existiu uma reforma em 2006 a nível mundial que visou acabar com os excedentes crónicos. «Produz-se menos vinho em geral e Portugal acompanha essa tendência. Hoje a nível mundial há um maior equilíbrio entre oferta e procura».
A estratégia para o futuro é seguir o rumo já definido. «É ter paciência e manter a estratégia de procurar sempre padrões de qualidade elevados, com vinhos diferentes baseados nas castas autóctones», diz Jorge Monteiro, reconhecendo que no mercado dos vinhos licorosos é difícil crescer: «É uma tendência a nível mundial. Bebe-se menos mas de melhor qualidade».
Frederico Falcão alinha no mesmo cenário. «Crescemos no mercado interno e externo. Objetivo é manter este rumo e conseguir subir o preço médio», conclui o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho.
Fonte: Diário de Notícias