São 11 322 empresas, 111 956 postos de trabalho, um volume de negócios de 15,9 mil milhões de euros e 4,867 milhões de exportações para inúmeros mercados. À frase inicial que dá mote a este trabalho “A Ciência e a indústria alimentar: o que melhor se faz em Portugal”, José António Teixeira, professor catedrático do Departamento de Engenharia Biológica da Universidade do Minho e coordenador científico do projeto MOBFOOD, nem hesita: «o setor agroalimentar representa muito em termos de emprego e do PIB».
E não há dúvidas: «tem havido uma evolução extremamente positiva» em Portugal em matéria de investigação, desenvolvimento e inovação (IDI) e de ligação à indústria agroalimentar. Hoje, constata o investigador, «o cenário é completamente diferente de há 20 anos».
De acordo com a FIPA – Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares, o setor agroalimentar e das bebidas agrega em Portugal cerca de 11 322 empresas que, em 2017, davam emprego a 111 956 pessoas. O Instituto Nacional de Estatística (INE) contabilizou em 15,6 mil milhões de euros o volume de negócios deste setor em 2016 e em 15,9 mil milhões em 2017, com os produtos cárneos, de padaria e o vinho a afirmarem-se como principais subsetores. O volume das exportações também é expressivo: 4,447 mil milhões de euros em 2016 e 4,867 mil milhões em 2017, sobretudo para os mercados de Espanha, França, Reino Unido, Angola, Itália, Brasil.
Portugal é apenas um país na Europa, mas vale a pena olhar para o panorama europeu. A organização FoodDrink Europe, sediada em Bruxelas, revelou em finais do último ano o seu relatório anual de 2017, no qual dava conta que a indústria alimentar e de bebidas na Europa agrega mais de 289 mil empresas, contribuindo com 1,7% para o valor acrescentado bruto da União Europeia (UE) e empregando 4,24 milhões de pessoas, ou seja, 15% do emprego gerado pela indústria no seu conjunto. É responsável por 102 mil milhões de euros de exportações.
Mas voltemos à questão inicial: “A Ciência e a indústria alimentar: o que melhor se faz em Portugal”. Em entrevista à “Vida Económica”, José António Teixeira constata que, «hoje, não há uma entidade de investigação que não tenha colaboração regular com empresas, sobretudo com indústrias», nomeadamente através de projetos em copromoção.
«Temos de dar um salto e não estarmos sempre à espera de fundos públicos»
E o que são, afinal, projetos em copromoção? São os que envolvem atividades de investigação industrial e/ou de desenvolvimento experimental com o objetivo de criar novos produtos, processos ou sistemas ou, também, de introduzir melhorias consideráveis em produtos, processos ou sistemas já existentes. São financiados com fundos públicos (nacionais e europeus), envolvem tecnologias avançadas e linhas-piloto, apoiadas em atividades de I&D concluídas com sucesso e visam evidenciar perante as empresas os ganhos económicos e resultantes das novas soluções tecnológicas.
É claro que há outros modelos de financiamento, que têm vindo a ser explorados – até porque «temos de dar um salto e não estarmos sempre à espera de fundos públicos», diz José António Teixeira –, que permitem hoje às empresas e às universidades cooperarem. E é também por causa desses mecanismos financeiros que se nota «um crescente interesse de colaboração e que permitiu reforçar esse interação» entre as entidades do sistema científico e a indústria. Assim diz o docente da Universidade do Minho e coordenador científico do projeto MOBFOOD, um consórcio formado por 46 entidades que procura responder, de forma integrada e estruturada, aos desafios relacionados com a promoção de uma indústria alimentar nacional mais competitiva (ver caixa).
José António Teixeira admite que, «antes, a indústria alimentar era um bocadinho conservadora e, até, uma espécie de parente pobre, pouco desenvolvida tecnologicamente». Nos últimos anos, porém, fruto da globalização da economia, dos novos hábitos alimentares, das exigências dos mercados e dos consumidores e porque também houve várias multinacionais a instalarem-se em Portugal, «deu-se um salto». E, neste momento, «são as empresas que já nos colocam os seus problemas e nos pedem [às universidades] soluções a curto e médio prazo».
Fonte: Vida Económica