Portugal vive uma das piores situações do último século. Adaptação é urgente, avisam cientistas

Confagri 01 Ago 2022

Fonte: jornaldenegocios.pt/Lusa

As autoridades admitem que esta é a pior dos últimos 100 anos, com quase todo o país em seca severa ou extrema. Cientista avisa que o país tem de se preparar antecipadamente para a adaptação às alterações climáticas, que estão e vão provocar períodos de seca, e aconselha cuidados com a água e mais árvores.

Portugal continental está a viver uma situação de seca hidrológica que as autoridades admitem ser a pior dos últimos 100 anos, com quase todo o país em seca severa ou extrema. A situação obrigou o Governo a tomar medidas, como apoios financeiros, monitorização e restrições no uso da água, nomeadamente para produção de energia ou para rega. Mas a água para consumo humano está assegurada.

Os níveis da seca medem-se pelo índice PDSI (Palmer Drought Severity Índex), que tem em conta a quantidade de precipitação, a temperatura do ar e a capacidade de água disponível no solo. Classifica-a de fraca, moderada, severa e extrema. Em junho, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), 67,9% do território estava em seca severa, 28,4% em seca extrema e 3,7% em seca moderada. O IPMA indica que este é o ano mais seco de que há registos (desde 1931).

Em declarações à agência Lusa, a cientista Joana Portugal Pereira avisa que o país tem de se preparar antecipadamente para a adaptação às alterações climáticas, que estão e vão provocar períodos de seca, e aconselha cuidados com a água e mais árvores.

“É essencial implementar planos de adaptação às alterações climáticas setoriais e regionais que avaliem especificamente a vulnerabilidade a que estaremos expostos em diferentes cenários de aquecimento global (1.5ºC, 2ºC, 3ºC e 4ºC). No caso dos sistemas alimentares é relevante adotar práticas mais eficientes no uso de recursos hídricos e de reutilização de água no setor agroalimentar. É igualmente importante termos cadeias de abastecimento mais curtas para reduzir a vulnerabilidade do acesso a alimentos em casos de eventos extremos”, alertaa especialista.

Desde há um ano que Portugal continental tem algum nível de seca na maior parte do território, com exceção do mês de outubro do ano passado, quando não ocupava a maior parte. Nos meses de inverno todo o país esteve em seca, com mais de metade do território em seca extrema em fevereiro passado.

Em janeiro deste ano, segundo o IPMA, verificou-se um agravamento muito significativo da situação de seca meteorológica, estando no final do mês todo o território em seca, com 1% em seca fraca, 54% em seca moderada, 34% em seca severa e 11% em seca extrema. Janeiro foi o sexto mês mais seco desde 1931 e o segundo mais seco desde 2000. Foi também o quinto mais quente desde 2000. A situação foi piorando e em maio já quase todo o continente estava em seca severa, sendo esse o mês mais quente e seco dos últimos 92 anos.

O que pode ser feito?

As alterações climáticas vieram para ficar, por isso, defende Joana Portugal Pereira, é muito importante apostar na mitigação e aconselha uma agricultura de precisão, a adaptação das culturas e do uso do solo, e mais sombra.

“A sombra é essencial” e pode ser conseguida com espécies autóctones, como o olival não intensivo, diz Joana Portugal Pereira, investigadora, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, e autora do relatório do grupo de trabalho III em mitigação, do Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla original).

Diversificar é a palavra-chave na resiliência, diz, explicando que para fazer face à seca “é preciso caminhar em várias frentes”, até porque cada solução pode ter entraves. Dessalinizar água do mar, por exemplo, é um processo muito intenso em consumo de energia.

A Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca já realizou dez reuniões este ano, nas quais foram tomadas quase uma centena de medidas. Em fevereiro foram tomadas 50 medidas e em junho passado mais 28, entre condicionamentos de uso de água a soluções para disponibilizar água em territórios mais afetados. Já este mês, na última reunião, que junta nomeadamente os ministros do Ambiente e da Agricultura, foram tomadas mais medidas, de reforço de albufeiras e de condicionamento do uso de água no setor turístico algarvio.

Na sequência da reunião de 01 fevereiro, à qual se seguiram reuniões regionais para avaliar possíveis cenários de condicionamento do uso de água, foi suspensa a produção de energia em cinco barragens devido à baixa reposição dos volumes armazenados nas albufeiras, aos valores de precipitação, significativamente abaixo da média, observados e para garantia dos volumes necessários para os usos prioritários.

Também foram suspensas as emissões de títulos de novas captações de água subterrânea para uso particular nas massas de água identificadas como críticas.

Qual o ponto de situação na agricultura?

Joana Portugal Pereira não tem dúvidas de que, segundo os modelos climáticos, Portugal vai ter menos água. E alerta que associada à seca há uma aceleração da degradação do solo e dos ecossistemas terrestres, “afetando significativamente as atividades da agricultura ” e a biodiversidade.

“Espera-se que a produtividade agrícola de cereais possa sofrer reduções e que ocorra também uma mudança no uso do solo e períodos do ciclo de colheita”, afiança.

Apesar de o Governo adiantar que a campanha de rega para 2022 está garantida, face aos níveis de armazenamento de 37 das 44 albufeiras monitorizadas, as barragens de Bravura, Santa Clara, Campilhas, Fonte Serne e Monte da Rocha (Algarve e Alentejo), bem como Arcossó e Vale Madeiro (Norte) apresentam limitações.

No que se refere à agricultura de precisão e à eficiência no uso dos recursos, o Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020 tem um aviso, com 24,5 milhões de euros de dotação, cujas candidaturas decorrem até 30 de setembro.

Soma-se ainda um aviso de 30 milhões de euros para a eficiência hídrica do aproveitamento hidroagrícola do Mira e da nova estação elevatória.

Por outro lado, o Governo quer alargar o uso de águas reutilizadas para fins que não necessitam de água potável, nomeadamente a rega de culturas permanentes. Em Trás-os-Montes, por exemplo, um conjunto de barragens de pequena dimensão, utilizadas para o consumo humano, está sob “apertada monitorização”.

No último relatório do IPCC sobre mitigação climática “o nível de emissões de gases de efeito estufa (GEE) atingiu o nível máximo de 59 mil milhões (Giga) toneladas de CO2 equivalente. Este é um valor máximo. Contudo, o aumento das emissões na última década foi inferior ao verificado na década anterior entre 2000 e 2010”.

E nota que há pelo menos 18 países que têm vindo a reduzir de forma consistente as emissões de GEE. Mas, acrescenta, disrupções como a pandemia de covid-19 ou a guerra na Ucrânia, podem atrasar o percurso positivo.

“Caminhamos no sentido correto mas lentamente. Sou uma otimista realista. Estamos muito aquém do que seria desejado mas há alguns anos estávamos muito mais próximos de cenários mais pessimistas”, diz, exemplificando com o último relatório do IPCC, que coloca como cenário mais pessimista um aumento das temperaturas de 3,5 a 04ºC, abaixo de relatórios anteriores. Mas ainda que melhor “não é um cenário bom”, remata a especialista

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