Traders recorrem a aplicações de streaming para negociar milho chinês

Confagri 18 Mar 2019

Os operadores de mercado estão a recorrer a aplicações de streaming para tentarem perceber como vão evoluir as reservas de milho e arroz, de forma a anteciparem a evolução dos preços no mercado bolsista.

As aplicações de streaming conquistaram a China com vídeos curtos de adolescentes a dançar e a fazer brincadeiras estranhas. Agora, os operadores estão a usá-las para prever o futuro dos preços dos cereais.

Por exemplo, um agricultor da zona rural no nordeste do país usa o seu telefone para filmar camiões em fila, prontos para carregar montes de milho dourado. A cerca de 3.200 quilómetros de distância, no seu escritório em Shenzhen, Honda Wei observa atentamente, examinando os comentários entusiasmados do produtor e as imagens dos campos à procura de pistas sobre a oferta e a procura.

«Isso dá-nos informações intuitivas sobre os mercados», disse Wei, de 33 anos, sobre a sua experiência na aplicação Kuaishou, uma plataforma de vídeos curtos financiada pela “gigante” da tecnologia Tencent Holdings. «Os traders estão à procura de correlações entre o sentimento dos agricultores e a flutuação dos preços futuros».

Com mais de 700 milhões de utilizadores combinados, as aplicações Kuaishou e Douyin, da Bytedance, oferecem uma enorme fonte potencial de informações no pouco transparente mercado chinês, onde os dados do governo nem sempre são os mais confiáveis ou eficientes. Recorrendo também a redes sociais, como a Weibo, os traders recolhem informações sobre plantações, colheitas, reservas e vendas em tempo real, em vez de passarem horas a fazer pesquisas por telefone ou visitas presenciais, como era necessário antigamente. «A comunidade dos traders monitoriza os agricultores, que partilham o seu sentimento nas redes sociais», disse Zhang Yan, analista da Shanghai JC Intelligence, que acompanha utilizadores no Kuaishou.

Embora internacionalmente os operadores tenham usado o Twitter para rastrear oportunidades, reagindo a tudo, desde incêndios em refinarias e encalhamentos de navios até o sentimento do mercado acionista, isso não é uma opção na China, país onde a rede social com sede nos Estados Unidos da América (EUA) está bloqueada.

Na sua avidez por dados, muitos operadores na China recorreram às aplicações de streaming, porque os agricultores começaram a filmar-se para estar em contato com outros e ajudar a melhorar a produtividade, gerir custos e maximizar os lucros. Mudanças no mercado interno de “commodities” contribuíram para esta tendência.

Em 2016, o país aboliu o seu programa de armazenamento de milho na região nordeste para deixar que o mercado definisse os preços. Em vez de comprar a produção, o governo agora concede subsídios aos agricultores para os incentivar a plantar. Os rendimentos na China são contidos pela restrição de variedades geneticamente modificadas e por limites às transferências de terras, o que contribui para a sensibilidade do mercado interno.

Os mistérios da produção e das reservas no principal comprador de “commodities” têm confundido operadores e analistas, agitando os mercados globais. O milho oscilou acentuadamente em novembro, quando o Departamento de Agricultura dos EUA revelou grandes mudanças nos números das reservas mundiais depois de a China ter ajustado as estatísticas da última década.

Em novembro, quando os preços de referência do milho na China atingiram o patamar mais alto em mais de três anos, traders com gigantes do setor, como Archer-Daniels-Midland, Cargill e Cofco, começaram a partilhar vídeos. Houve uma correlação entre os vídeos que mostravam os stocks dos agricultores e os movimentos reais dos preços, e isto bastou para estimular os operadores a instalar as aplicações. No mês passado, o contrato de futuros mais ativo da Dalian Commodity Exchange caiu 10 por cento em relação ao pico e atingiu o ponto mais baixo desde julho.

Fonte: jornaldenegócios

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