Abrandamento do terceiro trimestre não impede que Portugal registe este ano a maior taxa de crescimento desde o início do século. Economistas destacam a dinâmica recente revelada pelas exportações.
O crescimento homólogo de 2,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano, revelado esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), representa uma desaceleração face ao desempenho dos trimestres anteriores. Contudo, os analistas contactados pelo Jornal Económico desvalorizam este abrandamento, tendo em conta os sinais positivos revelados na evolução em cadeia, sobretudo das exportações.
Depois de crescimentos homólogos de 2,8 por cento no primeiro trimestre e de três por cento no segundo, a atividade económica abrandou no terceiro trimestre devido a uma evolução menos positiva das trocas com o exterior e do investimento. Mas se a análise for feita tendo em a evolução em cadeia, e não a homóloga, o quadro é mais risonho. Em comparação com o segundo trimestre de 2017, o PIB aumentou 0,5 por cento, mais 0,2 pontos percentuais do que no trimestre anterior. O contributo da procura externa líquida para a variação do PIB passou de negativo a positivo, observando-se um aumento das exportações superior ao das importações.
Porque se verifica esta dualidade entre a dinâmica homóloga e a trimestral? Em grande parte devido ao efeito de base que o arranque de 2016 provoca nas estatísticas. Como esse semestre foi fraco em termos económicos, a comparação com esse período “empola” o desempenho deste ano, fazendo com que as taxas de crescimento homólogo no primeiro semestre deste ano tenham sido atípicas para o histórico nacional. A desaceleração do terceiro trimestre é apenas um retorno à “normalidade” estatística e em nada impede que 2017 venha a ser o ano com o crescimento mais elevado desde o início deste século.
Os analistas contactados pelo Jornal Económico veem sinais encorajadores nos dados revelados ontem pelo INE. «É extremamente positivo ver a economia portuguesa a consolidar a sua recuperação, ainda para mais, de uma forma virtuosa: mais investimento e exportações e consumo sólido, mas em linha com a evolução muito positiva do mercado de trabalho», refere o economista-chefe do Millennium BCP, José Maria Brandão de Brito.
Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, destaca os aspetos positivos sentidos na evolução em cadeia. «É positivo que as exportações líquidas tenham regressado aos contributos positivos para o crescimento do PIB, constituindo o aumento sucessivos das exportações uma condição essencial para a redução do endividamento da economia portuguesa».
E mesmo o crescimento homólogo é visto como positivo, se for encarado numa perspetiva histórica. Como aponta o responsável do Montepio, a taxa de 2,5 por cento é superior à média de crescimento anual desde a criação do euro até 2007, de mais 1,8 por cento e ainda mais do período total desde a criação do euro (1999/2017), cuja média é de apenas 0,7 por cento. O único problema, diz, é que este crescimento homólogo é inferior ao observado por dois dos nossos principais parceiros comerciais, Espanha e mais 3,1 por cento e Alemanha, mais 2,8 por cento.
Para o conjunto de 2017, os economistas anteveem uma dinâmica igual ou superior à registada em 2007, o melhor ano deste século em termos de crescimento, quando a economia expandiu 2,5 pontos percentuais. «A nossa expectativa é de continuação do crescimento em torno ou acima de 2,5 por cento, em 2017 e 2018, na premissa de que a expansão da economia europeia se mantém», refere Brandão de Brito. «Para 2017, mantemos a nossa previsão de um crescimento anual do PIB de 2,6 por cento», aponta Rui Bernardes Serra.
Fonte: JornalEconómico