Vinho em lata. Portugueses na corrida por um mercado que vale 60 milhões de euros

Confagri 05 Abr 2021

Fonte: dinheirovivo.pt

Há cada vez mais marcas portuguesas a apostar no vinho em lata, como forma de chegar a clientes mais jovens e novas ocasiões de consumo, designadamente ao ar livre, onde as garrafas de vidro são proibidas.

Em mercados como o americano ou o brasileiro, abrir uma lata de vinho é um gesto habitual, sobretudo entre o público mais jovem, ou no consumo ao ar livre. Em Portugal, um mercado mais conservador no que ao vinho diz respeito, a inovação ainda causa estranheza a muitos, mas há cada vez mais marcas a apostar neste segmento de produto que vale, segundo dados de 2019, mais de 70 milhões de dólares (cerca de 60 milhões de euros) em todo o mundo. Os dados são da consultora Grande View Research, que antecipa um “crescimento significativo” nos próximos anos.

Pelo menos desde julho de 2016, quando a PositiveWine, da Bairrada, colocou no mercado o Flutt, o primeiro vinho espumante nacional em lata, que as empresas portuguesas olham com curiosidade para este segmento. Mas só com o anúncio, há duas semanas, do lançamento de Gatão e Gazela neste novo formato, é que a maioria dos consumidores portugueses se deu conta deste novo produto. E há muitos produtores que já lançaram ou estão para lançar as suas marcas em lata, à conquista dos millenials e das oportunidades de consumo que a simplicidade da abertura de uma lata acarreta.

O Gatão chegou ao mercado há duas semanas e Gil Frias, diretor comercial do grupo JMV, que detém os Vinhos Borges, fala numa recetividade “muito acima” do esperado num mercado “convencional e ortodoxo” como o português. Segue-se, a partir de abril, a chegada aos cerca de 70 mercados em que a marca está presente, mas com uma aposta especial no continente americano, na Europa central e do norte, bem como na zona do Mediterrâneo e na Península Ibérica.

Sendo difícil antecipar vendas de um produto completamente novo, sobretudo quando a marca ainda não arrancou com as campanhas de promoção, Gil Frias admite, no entanto, que as expectativas apontam para três milhões de latas nos primeiros doze meses.

O Gatão em lata esteve ano e meio a ser preparado e surge a partir do “pedido expresso” de um cliente do mercado internacional. “Foi assim que despertamos para a realidade de uma categoria que é muito popular no mercado americano, entre outros, e que cresce a dois dígitos ao ano, prevendo-se que, a curto prazo, se consumam 400 milhões de latas de vinho por ano em todo o mundo”, explica este responsável. E a pandemia até veio ajudar a dar impulso ao novo produto. “Os estudos de mercado que fizemos mostram-nos que os consumidores procuram produtos amigos do ambiente, funcionais, e que se adequam ao consumo ao ar livre. E a lata encaixa que nem uma luva nestas exigências, já que a lata é mais amiga do ambiente do que o vidro”, defende. E explica: “Sendo menos pesada, reduz a pegada carbónica no transporte; como é uma superfície mais fina, arrefece mais depressa e consome menos energia, além de que tem um potencial de reciclagem bastante superior ao vidro”.

Já o Gazela em lata, da Sogrape, só chegará ao mercado lá para maio e estará disponível, numa primeira fase, em Portugal, nos EUA e na Noruega. Outros se seguirão e, eventualmente, outras marcas do grupo.”Temos que ser suficientemente conhecedores e inteligentes para percebermos o que podemos e devemos fazer em cada mercado. O que importa aqui é assegurar que, tecnicamente, não há nenhuma diferença entre o vinho que coloco numa garrafa ou numa lata”, diz João Gomes da Silva, administrador da Sogrape, a maior empresa portuguesa de vinhos.

A Aveleda conta lançar o seu Casal Garcia em lata em maio. Começa pelos EUA e admite alargar ao Brasil e à Alemanha, eventualmente. Portugal não está, para já, nos planos. “Um dia há de fazer sentido”, acredita Martim Guedes, co-CEO da Aveleda. Com 14 milhões de garrafas vendidas ao ano, nas suas nove referências distintas, entre brancos, rosados, espumante e sangrias, a marca Casal Garcia vale dois terços das vendas da maior exportadora da região dos vinhos verdes.

Na Quinta da Lixa, o projeto do vinho em lata tem quatro anos. Óscar Meireles queria distinguir-se da concorrência global, num mercado que é dominado pelos vinhos do Novo Mundo, enlatando vinhos com denominação de origem, mas a legislação do Vinho Verde só permite a sua certificação em embalagem de vidro. Optou, então, por dois vinhos devidamente certificados com Indicação Geográfica Minho – o Anjos de Portugal para os EUA, Canadá e Japão e o Terras do Minho mais vocacionado para o mercado nacional – como forma de os distinguir da concorrência, que está a enlatar vinho de mesa. A valorização de um face ao outro é da ordem dos 30 a 35%, diz, mostrando-se convicto do sucesso do novo produto: “É uma oportunidade de negócio, sem se perder de vista as origens da Quinta da Lixa e o respeito ao vinho”, afirma Óscar Meireles, acrescentando que, mesmo no mercado nacional “os tempos estão a mudar muito rapidamente e há espaço para tudo, cada produto em sua ocasião”.

Também a Sociedade Agrícola Casal de Ventozela apostou na IG Minho como forma de se diferenciar neste segmento de produto. Foi a pedido de um cliente que, há dois meses, a empresa de Famalicão enlatou Alvarinho para o mercado inglês e o sucesso levou-a a criar uma marca específica, a Wigo (diminutivo de Wine to Go), para o vinho em lata. Que chegará, durante abril, ao mercado nacional e internacional. O primeiro teste, com 25 mil latas, será feito com um Alvarinho, um rosé e um Loureiro, mas André Miranda tem a expectativa de, rapidamente, chegar às 50 mil latas. “Os clientes estão a pedir isto há quatro anos, acredito que há margem para crescer muito”, sublinha.

Mas nem só a Norte se prepara o verão com vinho em lata, embora seja natural que a maioria dos projetos surjam naquela que é a grande região dos vinhos brancos em Portugal . Também a AdegaMãe, do grupo Riberalves, vai lançar, ainda este mês, o IG Lisboa Pinta Negra, branco e rosé, neste formato. Estará disponível nos mais de 30 mercados em que a empresa de Torres Vedras opera, incluindo Portugal, mas será direcionado em especial para o Brasil, EUA e Rússia. O objetivo é, no prazo de dois anos, chegar a um milhão de latas ao ano, assume Bernardo Alvez, diretor-geral da AdegaMãe.

E onde se faz o enchimento destes vinhos? A Borges recorreu a Espanha, para fazer o enchimento das latas de Casal Garcia, mas a maioria dos produtores está a recorrer a prestadoras de serviços, como a ELE – Empresa Lusitana de Engarrafamentos, do grupo Wine on Wheels. Com sede em Vila Nova de Gaia, este é um grupo que pesta serviços móveis a adegas em Portugal e Espanha, que vão desde a filtração ou estabilização dos vinhos, até ao engarrafamento e rotulagem, numa lógica de economia circular -“não compre o equipamento, partilhe-o” – e dispondo de 52 unidades móveis para o efeito. Uma delas é a de enchimento de latas, mas a empresa acaba de comprar a segunda unidade móvel para este fim e está já a estudar o investimento numa terceira, o que atesta bem do potencial que o grupo vê neste novo formato.

“Há muita gente a fazer ensaios, estão todos a preparar o verão, acredito que, nessa altura, vamos ver vinho em lata nas grandes superfície”, diz o responsável da empresa. Joaquim Carvalho sublinha que a ideia não é, de todo, acabar com o vidro ou a cortiça. “Há espaço para tudo, consoante o momento de consumo e a lata vai ser dedicada a vinhos brancos ou rosados, para serem bebidos frescos, numa esplanada, numa ida à praia ou num concerto por consumidores jovens e descontraídos, não tão preocupados com a tradição”, defende.

Joaquim Carvalho destaca as potencialidades da lata versus as garrafas em termos ambientais, designadamente por ser “muito mais leve, 100% reciclável e mais fácil de transportar”. Segundo este responsável, uma palete pode levar cerca de mil garrafas vazias que comparam com 11.500 latas vazias. Sendo certo que as latas de vinho são de 250 ml, um terço da capacidade de uma garrafa, é fácil de perceber as potencialidades, em termos logísticos, deste novo formato.

E a Decanter, a revista britânica considerada por muitos a ‘bíblia dos vinhos’, publicou em março um trabalho comparativo sobre o vinho em lata, procurando ajudar a desmistificar alguns preconceitos. A revista publica, ainda, as notas de prova a 16 vinhos em lata à venda no mercado britânico, com pontuações que vão dos 82 aos 94 pontos (em 100 possíveis). Não há ainda marcas portugueses neste ranking, mas quem sabe se numa próxima edição os vinhos nacionais já terão conquistado um lugar na tabela.

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