O clima é um dos principais fatores que determina a produtividade da videira. As regiões mais afetadas são o Douro superior, Foz Coa e o sul do Alentejo. As secas prolongadas, as altas temperaturas e as chuvas intensas num curto período de tempo estão a ter impacto na vinha portuguesa. Nesta altura, as regiões mais afetadas são onde o balanço hídrico é mais negativo: chove menos e a água evapora-se mais facilmente.
A avaliação dos impactos das alterações climáticas nesta importante cultura pode ajudar o setor a adaptar-se aos cenários futuros. Carlos Lopes é professor do Instituto Superior de Agronomia (ISA) e responsável pelo mestrado em Viticultura e Enologia, onde há várias disciplinas sobre as alterações climáticas.
Em declarações à Renascença, diz que a deslocalização de algumas vinhas para locais mais frescos está já a acontecer no país. «Já temos casos em Portugal de empresas no Alentejo que estão a plantar vinhas no litoral alentejano, que era uma região onde não havia vinha, para produzirem uvas mais frescas em termos de acidez, que depois misturam com as outras uvas produzidas no interior. Assim, conseguem ter vinhos mais equilibrados», explica.
Mas quando falamos em procurar zonas frescas não é só deslocar para o litoral, é também subir em altitude. Carlos Lopes sublinha que, nesta altura, «a região das Beiras está na moda, porque são zonas de altitude onde temperatura pode variar um grau. E esses terrenos que agora não têm nada podem ser num futuro próximo utilizados para produzir uvas mais frescas, com maior acidez».
O aumento da temperatura vai prejudicar a qualidade dos vinhos, que podem ter um teor alcoólico mais elevado e uma menor acidez. Por outro lado, estão já a verificar-se outras alterações, como a redução nos compostos fenólicos, aqueles que são responsáveis pela cor dos vinhos tintos.
Carlos Lopes diz que, independentemente da zona do país, estas mudanças afetam já a cor do vinho. «As temperaturas elevadas têm efeito negativo na síntese dos pigmentos vermelhos que dão a cor ao vinho e quanto mais calor tivermos numa região menor será, para a mesma casta, a coloração do vinho», afirma. É por isso que hoje estão a usar-se mais as castas tintureiras, para compensar a falta de cor. No que toca aos vinhos brancos, o problema prende-se com a falta de acidez.
Mas há outras questões a ter em conta. Hoje, as vindimas são feitas cada vez mais cedo, logo no princípio de agosto, e isso também tem impactos, porque as uvas ficam maduras, ficam doces mais cedo, mas há outros compostos que não acompanham esse processo. Há por isso que investigar qual a melhor adaptação a estas alterações e, na opinião do professor Carlos Lopes, a escolha das castas tem uma importância vital.
«Até aqui, escolhíamos as castas em virtude das suas aptidões; agora temos de incluir outros fatores como a resistência ao stress abiótico, a temperatura ou a água. Estamos a perceber que há castas que têm mais resiliência nesta adaptação, porque conseguem aguentar-se melhor com mais calor e menos água», diz à Renascença. Douro superior, a zona de Foz Coa e o sul do Alentejo são, nesta altura, as regiões mais afetadas pelas alterações climáticas.
Fonte: Renascença